… 13 anos de Maria Leonor. (Parabéns meu amor!)

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… Os olhos sempre foram enormes, atentos, curiosos. Hoje ainda são! E o tempo passou. Passou depressa. Tão depressa quanto a urgência que às vezes tenho para que abrande. Passaram 13 anos desde que a minha filha nasceu. Lembro-me como se fosse agora neste instante. Um calor grande no Alentejo. Nasceu redondinha, fui eu quem lhe deu o primeiro banho. Fui eu quem lhe deu muitos outros seguintes e ainda sou eu quem lhe lava muitas vezes o cabelo e insisto para que o corte, que a tarefa fica mais fácil. A Leonor cresceu, já não está aquela menina que pedia colo para subir a rua, que delirava por andar às cavalitas, depois aos ombros, ou correr na praça de um lado para o outro desenfreada a uma velocidade maior que ela e que me colava o coração às costas, porque a qualquer momento parecia que ia estatelar-se no chão. Caiu muitas vezes. Levantei-a muitas vezes e assim será ao longo da nossa vida. 13 anos e para trás a infância muito feliz que sei que lhe demos, cheia de histórias, de aventuras, coisas boas, muito boas. Entra aos poucos na adolescência, num caminho delicado, onde eu, como pai, vou ter que perceber a altura de abrandar, recuar, fazer silêncio. Inverte-se o jogo. Os tempos agora são mais dela. Está crescida, a minha filha, a melhor coisa que me aconteceu na vida. Tenho um orgulho tremendo nela e será assim sempre. A Leonor  fala muito, sempre foi muito conversadora desde pequenina. Falava de tudo e mais alguma coisa, brigava contra o sono e, para não dormir, falava. Um dia perguntou-me de que cor era o armário, disse-lhe ‘castanho!’ e ela, ainda com uns três anos, desata a desafiar a minha paciência e o seu sono –‘de que cor é castanho?’. E eu respondi: ‘cor de madeira’…. Ela:  ‘Porque é que é madeira? Mas há madeiras de outra cor’! E há muitos castanhos. E como se cortam as árvores para fazer os armários? E porque é que os armários não são todos iguais? E as árvores são as grandes ou as pequeninas? E quem é que as corta? Mas podem cortar? Quantas árvores se cortam para fazer um armário…’ E foi isto muito tempo, muitas vezes sobre a madeira, e podia ser sobre um livro, um alimento, ou uma pedra. Falava e queria saber tudo. Guardava as respostas com ela e voltava a perguntar e aí de mim que não dissesse a mesma resposta. Chamava-me a atenção… cresceu. Foi crescendo. Nota-se nas conversas, no espaço. Já não quer dormir na minha cama, como antes o fazia cheia de desculpas. No Verão para estar acordada até mais tarde, no Inverno porque ‘era mais quentinho’. Prefere estar no seu quarto com as suas coisas… Nunca se isolou, mas sempre deixou claro que a partir de um momento ia ser assim. É igual a mim. Tem a perfeita noção de espaço, tempo, vontade. Sabe muito bem o que quer e como chegar lá… A Leonor cresceu. Se olhar para trás, vejo uma menina pespineta que gritava, perguntava, questionava, e animava uma casa inteira só por estar. E  agora continua a gritar, perguntar, questionar, e a animar uma casa inteira. Gosto de a ver fazer-me companhia. Sempre fomos muito cúmplices, mas agora cresceu. Já se fala de tudo com ela… Os olhos estão postos num futuro. 13 anos é uma data importante a assinalar. Para trás ficam as festas cheias de cores e balões com muita gente. Agora quer um lanche com as amigas e um jantar num restaurante. Tem roupa nova para estrear todos os dias que durará o seu festejo, como sempre teve. Gosta de comprar, gosta de roupa. É vaidosa! É muito boa aluna, muito responsável e pode dar-se a esses luxos. Ainda bem que pode, ainda bem que posso. Quer muito viajar, quer conhecer o mundo e, de todos os lugares onde que ir, já vai fazendo o mapa, e se me descuido atreve-se a reservar os hotéis. Sabe muito bem o que quer. Não nego que dar-lhe colo todos os três dias que dura um fim de semana era, mesmo que cansativo, reconfortante. Agora já não quer colo, mas ainda passeamos de mãos dadas. Ainda finge que tem medo de atravessar a rua sem mim. Acho que o faz (como noutras coisas)  para que eu me sinta ‘útil’ à medida que se vai tornando independente. Aconteceu tanta coisa em 13 anos, que se olhar para trás não conseguiria fazer uma escala de prioridades de tudo o que me passa pela frente. Em nenhum dia, um único que fosse, eu deixei de ser pai. Não se pode deixar. Não tomei uma atitude, fiz qualquer coisa sem antes pensar muito bem no que poderia tocar a Leonor. Ela sabe que a minha profissão é complicada, não lhe acha sequer muita graça, mas sabe também as regras do jogo. Fomos explicando à medida que ia crescendo. Uma delas é a ausência, da qual me culpei muito tempo, mas à qual me adaptei. Nunca foi prejudicada por isso. A culpa que sentia entretanto foi desaparecendo, porque aprendemos com a vida, que a vida é assim. Há que aceitar. O seu respirar é o meu. A sua vida é a minha. Os sonhos são dela, mas que se eu conseguir quero ajudar a realizar. Ser pai é ter metade do coração a bater noutro corpo. À distância de tantos quilómetros sinto o coração feliz da minha filha a bater a compasso todos os dias e sei exactamente o que ela sente e como está pelo tom da sua voz às horas em que nos telefonamos religiosamente três vezes por dia, embora ela comece a achar que uma ou duas possam ser suficientes. 😉  Tem os olhos grandes, fala com eles ao mesmo tempo que da boca lhe saem frases sem vírgulas, com ideias, projectos, coisas a fazer, observações que não guarda para ela. É tão divertida quanto sensata. É mimada. Filha única e durante muito tempo a única neta, a única sobrinha… Vai irritar-se quando ler isto, não vai partilhar e vai fingir que não leu tudo: Que orgulho tão grande que tenho em ti minha filha. Que bom que conseguimos construir esta nossa relação. Obrigado! É muito trabalho teu. Parabéns, meu amor. Faremos ainda muito caminho juntos de mãos dadas… Sempre, mesmo que, disfarçadamente, faças para que as largue, ‘porque estás grande!’, mas para mim serás sempre a minha bebé dos olhos arregalados.

… Maio 2004

… Maio 2017

 

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