… A ténue luz (no Dia do Teatro)

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… Às vezes não há mais que uma luz. Mas há ali uma luz. Vamos acreditar que deixará de ser ténue e que passará a ser forte, não fluorescente, porque encandeia e  não é bom. Faz mal, tolda-nos a vista, o pensar, a serenidade. Irá abrir-se a luz, que agora está ténue, mas que será suficiente para iluminar um espaço que se quer claro. Tão claro como o pensar que tenho em mim. Fico aqui, nesta cadeira sentado, agarrado a uma data de coisas para dizer e escrever mas que não me saem, porque não consigo. Deveria ser um pouco actor hoje. Às vezes eu devia ser mais ‘actor’. Nem de propósito que hoje é o Dia do Teatro e eu tenho tanto respeito por Ele. Pelo teatro e por quem o faz. Falhei hoje! Devia ter ido ao teatro, devia ter-me sentado numa cadeira a olhar, sem sequer pestanejar, para um elenco em cima do palco a fazer-me sonhar. Gosto de sonhar a olhar para o palco, porque, como já vos contei, gostava de ali estar um dia. Não estando – por respeito – porque é muito nobre esta arte de vestir a pele dos outros e passar por verdadeira com a verdade aflitiva, fico aqui sentado nesta cadeira iluminado por uma luz, que pode parecer ténue, fraca, frágil e que ilumina apenas um pedaço de mim, mas não é só assim que a vejo. Quando olho para ela percebo que cresce em clareza, como crescem os actores que, sendo pequenos, em cima de um palco ficam gigantes. Gigante é o que sinto aqui. É grande em demasia para ser todo iluminado. Talvez seja por isso que a luz é fraca. Prefiro assim, até ter força para iluminar por inteiro.

 

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