… Esta gente não teve infância. Ponto!

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... Que difícil que é encontrar manteiga neste lugar. Será possível que ainda não se aperceberam da falta que a manteiga faz na vida de uma pessoa? Não tiveram infância? Quem não devorou manteiga com os dedos quando era miúdo? Verdade verdadinha eu devorava margarina Planta. Nem sei se me fazia bem ou mal, sei que me sabia muito bem quando chegavam os papo-secos quentes da padaria da dona Xica. Comprava-se sempre dúzia e meia, esperava que saíssem do forno pelas seis e meia da manhã e mandava meter na conta. Éramos muitos e raramente a meio da tarde se conseguia descobrir um papo-seco na caixa do pão. Uma embalagem de planta grande lá em casa dava para muito tempo. Eu lembro-me de a abrir e aproveitar a margarina que vinha junta à prata que era a prova que a embalagem era novinha em folha. Planta cheira-me a infância. Houve alturas em que a Planta salvou muitas refeições. Planta com esparguete quente também se comia... Por isso a margarina, a manteiga tem um papel importante na minha vida e irrita-me que a esta hora, quase duas da tarde, eu não consiga encontrar nenhum lugar nesta terra onde me sirvam um simples pão com manteiga. Se eu fosse corajoso, começava já a pensar na possibilidade de instalar a manteiga por estas bandas, usada como eu a usava quando era criança: manteiga no pão. Pão com manteiga. Hã coisa que nos faca recuar tão depressa ao cheiro do nosso começo?... Chegou! Enquanto escrevia isto, esperava sentado num banco alto de ferro, num balcão de mármore que alguém me trouxesse pão com manteiga. Não é o mesmo, não sabe ao mesmo. Definitivamente, esta gente não teve infância. Já nasceram a trabalhar num café e pronto. 

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