… O dia que me tornou maior (deixando-me mais pequeno!)

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… Esta fotografia foi tirada no dia que a Leonor nasceu, na maternidade de Elvas. Eu tremia da cabeça aos pés. Tinha um rosário pendurado ao pescoço e a barba por fazer, fruto de uma promessa que fiz na altura. A Leonor nasceu na altura certa, numa tarde muito quente do mês de Maio. Nasceu de cesariana, fui eu quem lhe deu o primeiro banho, fui eu quem a pegou ao colo pela primeira vez. Os olhos muito grandes e redondos. A pele muito macia e um cheiro que me ficou colado até hoje. Tenho a impressão de que se riu para mim assim que me viu e me agarrou o dedo como quem diz ‘vai ser para a vida toda’. Um arrepio de responsabilidade fica constante dentro de nós e as noites nunca mais são as mesmas, os dias deixam de fazer sentido antes deste dia. Não me lembro de quase nada antes da Leonor nascer. A minha filha era a linha que separaria, a partir desse momento, um antes e um depois. Nada, absolutamente nada, foi feito dali para a frente sem que o meu pensar parasse no dela. Os meus dias são feitos em função das suas necessidades. Como uma vez disse, a Leonor é o travão de muitas coisas que eu gostaria de fazer, de ter feito. O travão não necessariamente mau, não necessariamente bom. Mas é um travão! Estes quase quinze anos desta ‘profissão’ complicada e sem manual de instruções que é ser pai foram de aprendizagem constante. A Leonor é uma menina especial. É mimada, caprichosa, atenta, inteligente, responsável, dedicada e, acima de tudo, generosa… muito generosa. Generosa com todos, mas comigo mais ainda. Muito generosa. Porque uma filha que cresce com o pai ausente durante tantos dias e nunca lhe reclama nada só pode ser generosa. Porque uma filha que não questiona as escolhas do pai tem que ser generosa. Foi educada assim… O meu pai não me educou assim. O meu pai era um homem cheio de talentos e qualidades, mas não comigo. Eu queria um pai como todos tinham, queria alguém que me dissesse por onde era o caminho, me entendesse, ou pelo menos me tentasse explicar porque não entendia. Queria alguém que me dissesse que, acontecesse o que acontecesse, eu teria sempre um colo, um lugar para voltar. Que deveria ir sem medo, que ele seria a rede. Queria alguém que me dissesse o que estava certo ou errado. Nunca o fez. Talvez por isso me preocupe tanto em cumprir-me como pai e em não falhar. Não sou obcecado com isso, tenho a certeza que falharei muitas vezes, direi muitas vezes que não com vontade de dizer que sim, cederei muitas vezes aos caprichos da minha filha, mas deito-me todos os dias satisfeito por perceber que tenho com a minha filha uma cumplicidade rara e muito bonita, que começa a estar na adolescência e por isso é altura de perceber os silêncios, os amuos, as mudanças de planos… Estou muito atento, mais atento que nunca. Seguramente devo isso ao meu pai, que sempre me fez despertar uma espécie de alerta constante para não falhar nunca, com a certeza que falharei, claro! Mas será uma falha involuntária, irão ser muitas e, se forem involuntárias, serão perdoadas, entendidas seguramente. Senão hoje, nem amanhã, um dia mais à frente. Por muitos planos que um pai faça para uma filha, para a vida dos dois ou para a vida dela, não passarão de planos, sonhos e vontades porque é o Universo que vai encarregar-se de traçar o seu caminho. A Leonor é muito definida e decidida, sei que me surpreenderá, mas também sei que, mesmo torcendo o nariz, estarei para a apoiar e não pensará duas vezes em falar comigo se sentir vontade disso. Se não sentir vontade de falar, terá sempre um colo para adormecer o silêncio que é preciso respeitar. Esse é o meu orgulho. A confiança que tem em mim, percebendo que, não sendo o seu melhor amigo, tento ser o melhor pai que consigo. É assim que ela tem de me ver: como o pai, que é muito mais que o amigo. O pai que estará sempre e para sempre…  Hoje é Dia do Pai, um dia que só faz sentido se tivermos orgulho nos nossos filhos. Eu tenho um orgulho imenso na Leonor. Ela faz de mim um pai feliz. Muito feliz desde o dia em que, pequenina, muito pequenina, a peguei ao colo e se tornou tão grande, que fez de mim um ser pequeno ao seu lado. Obrigado, meu amor.

 

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