… O vento (Aprender a ouvi-lo)

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… O vento. Diz ele tanto sobre nós ou diz-nos ele coisas que precisamos de ouvir, a uma velocidade estonteante que, das muitas vezes que nos diz, fingimos não ouvir com a desculpa de ser apenas um zumbido? Desvalorizamos. Regra geral, desvalorizamos sempre as mensagens ou os sinais que nos chegam quando achamos que o melhor é não ouvir. Eu pelo menos funciono muito assim, talvez por teimosia, como sempre me dizem, ou, porque acredito na lei do universo e sei que tenho razão quando acho que o vento me manda mensagens baralhadas. Vejam se não vos faz sentido: como conseguiremos nós entender a mensagem do vento se ele nunca vem devagar? Não é uma brisa, é o vento. Chega forte, muitas vezes violento. Abre janelas, parte portas, derruba cristais. Se abana folhas e árvores, como não nos vai abanar a nós as ideias, ao mesmo tempo que nos despenteia? Claro que vai. Um dia, há muitos anos, uma amiga disse-me: ‘Quando o vento te chegar com a força de querer levar tudo à sua frente, não o enfrentes. Tenta ficar quieto à espera que ele passe e dê lugar à brisa. Só vais entender depois dele passar…’. Tem estado muito vento. Não sou tão sábio como a minha amiga mas, de vez em quando, sempre que ele me entra corpo dentro a esta velocidade tento decifrar a mensagem que me quer soprar. Há dias em que não consigo. Nestes casos, apenas o sinto chicotear-me a pele. Deixo-me arrepiar. Tento proteger-me dele e espero que passe. O melhor é não lutar com ele, muito menos contar com ele, nem tentar decifrar. É demasiado audaz da minha parte. Prefiro trocar a teimosia por um gesto de cobardia e ficar quieto. Um dia chegará a brisa. É tudo mais calmo quando o que nos arrepia é só a brisa. E a brisa, na verdade, talvez seja o lado bom do vento mau.

 

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