… Queria ir (mas apetece-me estar aqui)

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… Devia ir apanhar estes raios de sol de Inverno, ver gente na rua, sentir a confusão de estar, entrar e sair de lugares. Devia ir a uma esplanada, ir ao ginásio, fazer as compras da semana, escrever. Devia fazer contas à vida, planear a passagem de ano, as férias de Verão, uns dias em Janeiro. É sábado. Devia andar na rua. Sentar-me numa esplanada. Beber um chá. Comprar um livro. Decidir-me por um espectáculo à noite. Devia! Mas apetece-me estar assim. E sinto-me culpado por isso. Há muitas coisas a acontecer. Mas estou aqui. Apetece-me estar aqui. O corpo precisa de um estímulo para se levantar com ele e seguir por aí fora na busca de um sábado que valha a pena. Na verdade, que mal tem estar aqui? Não devo ser a única pessoa a querer ir e a ficar por preguiça. Se sou, peço desculpa ao mundo que, por causa dele, fico aqui. A única coisa que escuto é a máquina de uma obra que acontece lá muito ao fundo, um avião a passar de vez em quando e as rotinas domésticas dos vizinhos do prédio. Não escuto mais nada, além dos barulhos silenciosos do meu pensar, claro. Sinto o corpo vestido, colado à cama já preparada para  frio e as pernas aquecidas por uns raros raios de sol que entram pela janela. Talvez daqui a bocado consiga sair daqui. Talvez o corpo se levante, os pés pousem no chão e se encaminhem a um lugar qualquer onde a cabeça os leve e onde se sinta bem, porque é bom ir ali e estar como estou aqui. Mas agora só me apetece estar aqui. Não sejamos hipócritas! Já todos ficámos aqui com medo de ir.

 

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