… A ti, minha vida!

Por
... Pai e filha. Maternidade de Elvas, tarde de 15 de Maio de 2004
... Meu amor, a tentar organizar as coisas e nesta madrugada descobri a tua primeira fotografia comigo. Tinhas acabado de nascer e fui eu quem te deu o primeiro banho. Hoje, estás aqui ao lado a dormir. Tranquila num sono descansado. Consigo ouvir o teu respirar a tua vontade de seres a mais feliz do mundo. Tantas vezes me meto a pensar como era a minha vida antes de tu nasceres e não me lembro. Não percebo onde ia buscar um objectivo, uma força, uma vontade. De vez em quando sou o pai chato. O pai dos horários, das ausências, do dinheiro, das contas para pagar, o pai pendurado ao telefone. Mas nunca, meu amor, em nenhuma das minhas rotinas deixo de ser pai. Tenho tanto orgulho em ti! És muito mais do que algum dia pedi (e não aproveites isto para desatares tu a pedires isto e aquilo) mas a verdade é que com os teus caprichos de menina és um belíssimo exemplo do que pode ser uma criança filha e educada por pais separados e incomensuravelmente feliz! A tua cabeça está mais que resolvida, tens a família toda a zelar pelo teu sorriso. Tens os melhores avós do mundo, os tios e tias que te amam e te apoiam e fazem com que sintas menos as constantes ausências do pai... Olho para o lado e olho-te o sono tranquilo. Há pouco tempo estavas aos pulos quando subimos a rua de mão dada. Eu calado na impaciência dos quarenta anos. Tu a falar desalmadamente na impaciência de não quereres nunca deixar uma história por contar, uma observação por fazer, uma coisa por dizer, mesmo que repetida muitas vezes com a desculpa de 'Explica lá outra vez, que parece que eu tenho cinco anos quando explicas as coisas...' Um dia, vais perceber que para um pai, a filha será sempre a bebé que a quem iremos tentar a vida toda simplificar as coisas entre algodões. Eu lá explico mais uma vez. Eu entendi. Tu entendeste. Fizeste-o orgulhosa. Antes de adormecer falaste desalmadamente. Adoras conversar, de coisa nenhuma se for preciso, só para não adormeceres. Vestiste o pijama, arranjaste a cama, estudaste matemática, falaste e adormeceste a pensar no amanhã! No mesmo amanhã que eu penso há onze anos de maneira diferente, porque depois de ti não ha um 'amanhã' singular, será sempre no plural. E assim, de repente, passaram onze anos. Pouca coisa está na minha vida, como estava no dia que nasceste. Um dia muito quente. Onze anos depois passou-nos a tua infância. Entras na fase de pré-adolescência. Com ela chegam-me outros medos e outros tantos receios. Mas nós somos cúmplices, e estarei atento a qualquer coisa que precises, mesmo que percas a paciência para falar comigo, eu serei paciente para esperar. Como sempre esperaste que acabasse o trabalho, o telefonema, que chegasse a casa, que orientasse as contas, que desligasse o computador, que tivesse tempo... Como esperaste pelo dia em que me me puxaste pelo braço e me disseste que querias conversar comigo 'uma coisa que tinhas na cabeça'. Era Novembro e foste tão clara, certeira e generosa para a tua idade, que ainda hoje me pergunto como é possível. Chorámos os dois. Agarrados. E ainda hoje me pergunto: Como foi possível? Amo-te minha filha. Parabéns! Estás uma menina crescida. Tens a família toda orgulhosa de ti! E um pai que não cabe em si de vaidoso. Somos dois não é? 
Sem tags

Blogs do Ano - Nomeado Entretenimento