… A SIC faz anos (Estou dentro dela há 20)

Por

… Esta imagem de má qualidade, roubada ao ecrã tem uns 20 anos. Foi o dia de estreia da minha estreia na SIC. Sete anos antes já tinha enviado currículos, cartas, k7, feito telefonemas. Já tinha ouvido sentado em casa mil vezes o genérico de abertura, já tinha ensaiado em casa mil aberturas feitas por mim. Sete anos anos antes já eu me tinha candidatado a tudo e mais alguma coisa, sabia tudo de cor, terei feito quase todos os castings, conhecia toda a gente nova que tinha tido a sorte de ser abraçada logo no começo. Há sete anos esperava nervoso pela chegada do correio para saber se, na volta, existia uma resposta. Existiram muitas. Guardo-as todas. Não foram positivas. Nenhuma delas. Mandei sugestões, mandei ideias de programas, alterações de guiões, tudo o que possam imaginar… Não aconteceu. Aconteceu mais tarde. Aconteceu quando tinha de acontecer. Sete anos depois, num casting atrevido que fiz para as ‘Noites Marcianas’. Ofereci-me para o fazer. Correu-me bem o atrevimento à moda antiga. Um miúdo chega com uma k7 gravada e entrega na recepção da SIC com um envelope ao cuidado do Dr. Emídio Rangel. No mesmo dia fui chamado pela produtora para fazer o casting a sério. No mesmo dia do casting soube que ficava. ‘Esqueci-me’ de lhes dizer que vivia em Vila Boim. Estavam convencidos que vivia em Lisboa, foi o que escrevi na carta. Sabia que se dissesse que estava a viver no Alentejo, há vinte anos, não teria sido escolhido. Já tinha passado por muitos exemplos que me levaram a acreditar nisso. Fiz trinta por uma linha, mas no dia marcado, bem antes da hora marcada cá estava eu pronto para ‘fazer como na k7‘ palavras do Dr. Emídio Rangel, director de programas na altura. As ‘Noites marcianas’ apresentadas pelo Carlos Cruz foram a minha primeira vez ‘a sério’. Eu, vinte anos mais novo, vinte anos mais inocente, vinte anos mais leve e com mais vinte anos de sonhos e quereres em cima. Para mim, já naquela altura televisão era alma, vida, comunicação, entretenimento, informação. É por isso que a faço. Eu sou um apaixonado pelo mistério da caixa mágica, que tem que se saber reinventar a cada década. A que se avizinha não será fácil para Ela (televisão), porque tem hoje muita concorrência e a vida nada facilitada, mas, da mesma maneira que o teatro não acabou com o cinema e a rádio não acabou com a chegada da televisão, estou convencido que existirá sempre um lugar para Ela como a entendemos hoje. Divertida e a chegar a toda a gente. É disto que não nos podemos esquecer: que a televisão é uma coisa de todos feita para todos. Não é um nicho para agradar a meia dúzia ou só a alguns. Por fazer televisão, por gostar de estar dentro dela, mas acima de tudo porque gosto de a ver, sinto um orgulho imenso em celebrar estes 27 anos da SIC. Estreei-me na casa há 20 anos. Fiz tanto do que sonhava fazer e falta-me tanto do muito que ainda sonho. Só assim entendo as coisas. Os nervos antes de se ligar a luz encarnada, o som do bater do coração que se consegue ouvir num microfone mais atento, a câmera que será os olhos da pessoa a quem vou chegar. Televisão é isto! É a pessoa do outro lado. Eu nunca quis fazer outra coisa na vida, nunca quis ser outra coisa na vida que não fosse apresentador. Em pequeno brincava a apresentar festivais da canção, imitava locutoras de continuidade, fazia espectáculos onde criava os participantes para os poder apresentar. Eu não respiro outra coisa. Sei fazer outras coisas, que a vida ensina-nos a aprender. Mas o que faço melhor é isto. Olhar nos olhos de quem está por trás da caixa, cada vez menos caixa como a entendíamos, como a conhecemos, e imaginar que a pessoa me escuta atentamente. Que se vai rir comigo, que a vou emocionar, que lhe vou despertar um qualquer sentimento que valerá a pena. Eu sou muito feliz a fazer televisão. Nem tudo é fácil, nem todos os dias são de risos ou vitórias. Bati muitas vezes a portas que não abriram, tive muitas reuniões que não resultaram. Fiz muitas vezes o caminho de volta a casa depois de sair do estúdio frustrado no carro por não conseguir fazer o que queria. Subi muitas vezes a escada para casa com uma sensação de vazio  imensa. Adormeci a planear conteúdos, palavras, histórias… O esforço tem de ser grande. Para captar a atenção do outro lado é preciso uma reinvenção constante e no dia que isso não acontecer vale mais desistir. Somos a companhia das pessoas. É nelas que penso, por isso, tenho um respeito tão grande pelo daytime, onde os programas se destinam a uma franja que depende de nós para sentir o pulso ao dia, e quanto mais formos o pulso delas, mais respiram. Quanto mais elas nos respirarem, mais vida a televisão tem. A SIC está de parabéns por estes 27 anos. Digam o que disserem, sem ela Portugal não chegava ao mundo com os olhos da realidade, com as cores tão nítidas e com a verdade estampada no ecrã. Digam o que disserem sem ela eu não teria realizado tantos dos meus sonhos e conhecido tanta gente que faz parte da minha vida, como há tantos anos faziam os amigos e vizinhos que me viam fazer teatros, espectáculos, falar ao microfone e reviravam os olhos convencidos que não passaria daquilo… Valeu a pena a insistência. Passados tantos anos, deixei de ser vizinho ‘só’ deles para ser do País inteiro, isto significa que eu tinha alguma razão. Muito obrigado a todos!

Blogs do Ano - Nomeado Entretenimento