… No mundo existe um menino que acha que o mundo é dele. Que gira em torno dele e dos seus sonhos. A vida, que é a mãe do menino, diz-lhe muitas vezes que não pode ser assim. Leva constantes puxões de orelhas mas o menino, que é também filho do mundo, acha que o pai é só dele. Esquece-se que tem irmãos que também têm sonhos, que o Mundo tem muitos filhos. A vida avisa-o, ele aceita, mas num ápice sente-se injustiçado porque o mundo não é só dele. Briga, reclama “mas eu quero. Eu tenho direito!”. Esquece-se este menino, que todos os outros tem direitos. Direito a ter dois braços, duas pernas, a ver, a sentir o cheiro, a comer todos os dias, a ter o colo da mãe, o ombro de um amigo… Mas que nem sempre é assim, e eles seguem em frente. Obstinados, mas não revoltados! O menino, olha à volta e vê os irmãos com rasgados sorrisos, grandes planos, enormes projectos, constantes desafios… Mas não imagina que como ele, também os outros têm sonhos. Também os disfarçam quando não são cor de rosa. A vida e o mundo, são pais deste menino, que ainda não aceitou que crescer é cair muitas vezes – convém não ser no mesmo lugar – mas cair faz parte. Recomeçar faz parte. Faz parte muitas vezes ir com toda a força bater com a cabeça na parede e sangrar, como faz parte estar insatisfeito, que é diferente de infeliz. O Mundo é muito grande para ter apenas uma vida. E a vida anda sempre ocupada, para se preocupar apenas com o menino que acha que o mundo é dele. E por pensar assim sofre, teima em não crescer no sentido certo. Sofre porque acha que a vida dos outros é melhor, não se lembrando que a vida – tal como as mães – são todas iguais. Só mudam o endereço, e generosas vezes, a forma como a tratamos.
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