… As noites no Alentejo ainda arrefecem. Os dias estão quentes, muito quentes. Mas com o cair da sete da tarde, o sol esconde-se e ainda se sente o frio. Cheira a frio. É nesse momento que a minha casa, paredes meias com a rua, é o meu abrigo. Depois de passar esta porta encarnada, entro no mundo encantado, mais da Leonor que meu é certo, porque os risos, as birras e constantes perguntas dela deixam pouco espaço para o resto. Ainda assim, o serão aparece, na sala sinto-lhe a respiração de adormecer e ali fico eu, de janela aberta, a ouvir as gentes a descer e subir a rua enquanto me entretenho a olhar para a televisão com o prazer se ouvir o som do vento a dar de si. Parece uma coisa banal. É uma coisa banal, mas só lhe sentimos a falta quando a deixamos de ter. Todos temos o direito a ter uma porta encarnada, onde depois dela, nos protegemos do frio.
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