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... Sábado. Onze da manhã. E ele acordou antes do despertador tocar. Do outro lado sente, ao estender o braço, que a cama está fria. Ele está transpirado, nu, com o coração colado à garganta porque acorda com a sensação com que adormeceu. O dia será longo. Mais um longo dia. Levanta-se, tropeça no comando da televisão, que está no chão, ao lado da garrafa de água e das cuecas brancas. Vai à cozinha e faz as rotinas de forma automática. Uma espécie de piloto que está ligado há semanas e que funciona sempre da mesma maneira. Duche mais rápido, roupa na mochila e desce a calçada para tomar o pequeno almoço no sítio do costume. Pão  de centeio com uma fatia de queijo sem manteiga, sumo de laranja, descafeinado e mais uma carcaça integral com manteiga. Sobe a calçada que desceu e entra em casa antes de voltar a descer as escadas para entrar no carro. Mais um sábado de trabalho. Ele trabalha mais que o normal talvez com medo que um dia não o consiga fazer, com medo de dizer não, com medo de deixar de ajudar... Esperam-lhe muitos km até ao regresso. Antes, e durante o pequeno almoço escreve-lhe a carta. Explica-lhe tudo. Explica-lhe porque tem o coração colado à garganta. Mete os pontos nos 'is' e disfarça por trás de uns óculos grandes a razão do coração. A ele, o coração leva sempre a melhor. Em casa, junta esta às outras cartas, abre a janela do quarto de par em par, não faz a cama. Promete que quando voltar dos km que tem de fazer dormirá do outro lado. Já será Domingo. Não serão onze da manhã. Não haverá ao cinema. E o lado da cama continuará frio. E ele não percebe porquê.

In. Eles! (proximamente) 
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