Por
… Pergunto-me todos os dias 15 de Dezembro, porque morreste? Tenho tantas saudades tuas que cheguei a ter a certeza que queria ter morrido contigo. Foi tudo tão rápido, tão lento, tão estupidamente violento que, desde há dois anos, a minha vida não mais foi a mesma. Desprezei-te tantas vezes e agora sinto tanto a tua falta. Tanto, tanto!
Hoje, na missa, estava toda a gente. O bairro inteiro, os nossos amigos, os conhecidos… Sempre foste muito vaidosa e ias gostar de saber que, no cemitério, a tua campa continua a ser uma das mais bonitas… Simples, de pedra e cal, pintada de branco, mas sempre com umas tulipas frescas que chegam a cada sexta-feira. Não sou eu a levá-las, é a tua mãe… Sabes, digo-te sempre isto, eu sei, mas quando a tua mãe está no cemitério, tento passar despercebido. Nem sei porquê. Sinto-me ainda tão morto por dentro que não é justo dividir a minha dor e a minha culpa com o sofrer dela. A tua mãe tem uma forma de sofrer diferente da maioria das pessoas. No começo, confesso, foi complicado entendê-la. No dia da tua morte parecia que era eu quem tinha a culpa. O olhar dela, a postura, e a forma de falar naquele quarto despido de vida, cravavam-me uma culpa que eu acreditava não ter. Agora, com o tempo, nem sei se a tinha ou não, mas aprendi a respeitar a tua mãe. Tinha receio que ela não sofresse, ou talvez ciúmes porque podia sofrer mais do que eu. Mas acho que para ela este foi só mais um golpe da vida. Uma vida que, pelo que soube depois, nunca lhe sorriu muito. Talvez por isso ela se tenha esquecido de sorrir para os outros. Dizem os sábios que quem sofre calado, sofre muito mais. Eles lá sabem!
Este ano calhou num domingo… Os nossos domingos eram sempre tão alegres. Tão saudavelmente vividos…
Por que te foste embora Marta!? Abraça-me…
in, Abraça-me
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