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... Nunca se sentaram juntos no degrau da porta de casa. Hoje Ele lembrou-se disso. É domingo. O filho da puta do domingo. Está um final de tarde fresco. Está sentado no degrau e lembrou-se que um e outro nunca se tinham sentado no degrau da casa nem de um, nem de outro.  Nem na casa de um, quando era dos dois, nem da casa do outro quando era só dele. 'Quando não se divide um degrau perde-se muita cumplicidade'. Isso é certo. O silêncio de um encontro num degrau fala muito de cada um. De um e de outro. Não importa encontrar os culpados pela falta de comparência no degrau. Importa perceber que um está agora sentado sozinho no degrau a lembrar-se das muitas vezes que o pisaram para entrar e sair. Com as passadas sempre fortes de um e mais suaves de outro, seguidas do bater da porta. Suave de um. Brusca do outro. Um e outro tinham sonhos e vontades. Choraram muito para dentro deste degrau mas riram muito também. Dentro e fora. Fizeram muitas coisas juntos. Subiram e desceram muitos degraus. Deram-se as mãos na subida de cada degrau, ampararam-se nas descidas de outros tantos degraus... Mas nunca se lembraram de sentar no degrau. Um Simples degrau. Nem que fosse para descansar.                                                                                                                                                                                                        


in. O homem que odiava os Domingos (brevemente)


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