… A verdade e a mentir andam de braços dados. São assim como a guitarra e o fado. Não sei se concordam, mas a linha que as divide é tão pequena e ligeira que de um momento para o outro o que hoje é verdade amanhã passa a ser mentira. Agora pergunto: Poderia ouvir-se o fado sem o trinar de uma guitarra? Não me parece. Por isso não me parece que uma mentira dure muito tempo. Diz-se que podemos enganar muita gente muito tempo, mas nunca poderemos enganar toda a gente durante todo o tempo. A verdade só existe porque a mentira anda ali. Agarrada como uma carraça nojenta que não se solta porque não quer. Porque é mais fácil a mentira e a falsidade. Neste caso opto sempre por ser o cão. Não gosto de mentiras – claro que já menti – mas não gosto. Mas mais grave que a mentira, é alimentá-la. Sem respeito por nada nem ninguém. Alimentá-la a favor de seu belo prazer e nada mais. Quem o faz, rapidamente se esquece que é mentira, vive-a como verdade. Mas obviamente não dura sempre… e como não dura sempre, um dia deixamos de ouvir fado, para passarmos ao tango. E por isso se diz, que o importante é dançar como a própria música. Só que eu não gosto que me pisem os pés!
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