… Chegou o Outono. Chegou a noite!

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… Chegou o outono. Eu sou dos que gosta do Outono com sabor a Outono. Gosto de sentir o vento demorado na rua, a chuva miudinha e as os tons castanhos espalhados por todo o lado. Sou dos que gosta da roupa mais pesada, por camadas, e de gente aninhada em si mesma, sem sabermos se é do frio ou da vontade de um abraço. Com o tempo assim, não tem de se fingir a carência de um abraço. Abraçamo-nos nós com a desculpa do frio. Pensando bem, há demasiada gente com o outono instalado dentro de si. Com medo de abrir as portas da alma, porque têm receio que uma rabanada de vento mais forte lhes tire o que pensam, o que sentem, o que são… Eu não gosto disso. Gosto de me sentir outono de vez em quando, mas de portas abertas. O renascer é importante e se for preciso, que nos chegue um vendaval e abale tudo o que temos instalado para que depois volte a ser primavera, mas só de tempos a tempos. Agora é Outono. Cada estação tem o seu espaço, temos que saber vivê-la e deixar que se instale, porque com todas aprendemos. A mim já me ensinaram umas quantas coisas. Querem ver? Com a primavera, aprendi a renascer e a sentir o impulso da mudança, no outono aprendi o aconchego. O inverno é a certeza de deixar tudo fechado porque está frio e sentimos mais comodidade no tempo frio. O verão traz a aventura, o adiar, o deixar estar… Não é porque o outono me invadiu a alma que não penso nas outras estações. Não é porque gosto de frio e chuva que o vou deixar ficar muito tempo. Mas sabe bem. Sabe bem perceber que cada folha que cai hoje de uma árvore e é levada pela força do vento ou pelo escorregar da água, fez parte de um nascimento. Já foi pequenina, já cresceu. Já foi verde. Acabou por cair, castanha, vencida pelo tempo ou pela força da Natureza. Não somos muito mais do que uma folha quando estamos dedicados a viver o outono dentro de nós. Pensamos que somos a folha. Uma folha de Outono. Bonita, frágil, com a história de todas as estações anteriores. Da mesma maneira que pensamos que a estação não passa acho que demorarmos muito tempo a pensar. Pensamos muito e muitas vezes devíamos apenas não pensar. Desligar. Ouvir só o vento ou a chuva. Perceber o frio. Como é que ele acontece? Não vale a pena mais do que isto. De vez em quando, devíamos limitar-nos a viver. Deixar passar. Se o outono passa o resto passa também! Estava a pensar nisso agora. A esta hora é serão. Eu amo o serão de Outono. Mais caseiro, mais sossegado. A mim o serão aclara-me o pensamento. Gosto de o ter em silêncio, porque preciso muito de organizar ideias, estabelecer prioridades e muitas vezes, durante o dia não me apetece. Gosto dele. Sereno, calmo, com uma vela acesa, o som da televisão ao fundo, um livro que não vou abrir por preguiça, mas que olha para mim e me faz sentir culpado, e o computador em que escrevo estas linhas. Acho que sempre gostei da noite, mas gosto mais dela em casa do que na rua. A noite faz-me cada vez mais sentido em casa, mas faz-me cada vez menos sentido sozinha, principalmente se forem noites de Outono.

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