... Agora que aprendi a nadar, consigo ficar um bom tempo debaixo de água. E aqui fico. Olhos muito abertos, respiração só feita pelo nariz que bate a compasso com bolinhas de ar. O corpo vai até ao fundo. Fico ali segundos, um minuto se tanto for mas parece tanto tempo. Estamos sozinhos eu e o tempo, e claro água, muita água e o azul dos quadradinhos pequenos que forram a piscina. Podia adormecer aqui, das pessoas que estão ali em cima neste momento nenhuma daria pela minha falta. Podia adormecer mas não adormeço porque debaixo de água não tenho a tranquilidade que já tantas vezes tive ao cimo dela porque tinha uma espécie de ser vigilante que não me deixaria adormecer ou se o fizesse me vigiaria o sono. Aqui não adormeço, tenho medo de quando acordar não tenha tempo nem ninguém que me arranje o cabelo e vocês sabem o feio que é uma pessoa sair da água toda despenteada, logo agora que aprendi a nadar e sei pentear-me dentro de água como se tivesse acabado de espalhar brilhantina no cabelo é que me iria dar a esse luxo? Não! Não me vão ver adormecer aqui. Continuo com os olhos muito abertos e a única coisa que vejo agora são os tais quadradinhos azuis que forram a piscina. Já tenho poucas bolinhas de ar à minha volta. Vou subir, não sem antes rodar o corpo e tombar levemente a cabeça para trás para quando aparecer ao cimo da água esteja impecavelmente penteado. Mas porquê? Se das pessoas que aqui estão nenhuma daria pela minha falta, porque se hão-de preocupar com o meu penteado? Coisas da minha cabeça.
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