... Eu sou de coisas simples. Sei que muitos não acreditam ou até acreditando pensam que com o avançar do tempo o prazer da simplicidade se vai perdendo. Eu acho que não! Pelo contrário, acho que vamos dando mais valor ao simples à medida que temos acesso ao ‘complicado’, porque percebemos que apesar de simples sabe melhor e tem mais verdade dentro porque não está cheio de fantasia para parecer mais bonito. O complicado ‘parece’ mais do que ‘é’ e nem sempre o que parece corresponde. Muito pelo contrário. É difícil que uma e outra coisa se encontrem para satisfação geral. Toda esta divagação para vos dizer que acordei com vontade de comer pão com manteiga. Verdade! Uma simples fatia de pão com manteiga. Não um pão qualquer. Tinha que ser um pão com sabor a pão. Daqueles que acompanharam a minha infância toda, que me satisfaziam antes de ir para a escola, no intervalo das aulas e no regresso à hora do lanche. Aquele pão que preenchia a sopa, que se mete debaixo do caldo feito com tomate, com batata, com beldroegas. O pão cujo cheiro inundava a vila inteira antes das seis da manhã porque o forno dava sinal de si. O pão! Vejam que simples que é lembrar, por conta de uma fatia de pão com manteiga, o que fazia há quase 40 anos. Apetecia-me pão. Fui comprar. Agarrei nele com ganas e barrei-lhe manteiga. Não é um bom exemplo mas, parafraseando a minha amiga Joana Barrios, poucas coisas nos dão tanto prazer como encher a boca com pedaços de pão com manteiga. Quando era muito pequeno molhava a fatia de pão no leite. Depois mais tarde no café e delirava com aquela mistura absurda que ainda vejo os mais crescidos fazerem e que agora – talvez porque me tenha tantas vezes esquecido do simples – torço o nariz. Já aprendi muitas coisas com a Joana Barrios. Muitas mesmo! Mais do que ela imagina e ela comigo também. Durante um ano criámos uma respeitosa cumplicidade que fez com que para mim ela fosse uma descoberta. Temos muito em comum e outro tanto de separado. A Joana tem na vontade de ser livre a sua maior bandeira. Não tem medos, tem receios mas enfrenta-os com a garra de quem, como tanta gente que conhecemos, se multiplica para satisfazer carreira profissional, marido, filhos, casa, sonhos… não necessariamente por esta ordem mas a Joana, por de trás dos trajes que enverga tem uma alma preocupada e atenta com os que lhe são próximos. Quando hoje de manhã me lembrei de pão com manteiga lembrei-me também que descobrir gente por impulso faz de nós boa gente e o outro dia descobri outra coisa que nos une, ambos somos musicalmente populares de todos os costados, ambos sabemos de cor e salteado as letras de canções ligeiras e populares que não passam pela cabeça de ninguém. Enfim! Hoje apeteceu-me só dividir com vocês, que me vão lendo por aqui, isto. Talvez não encontrem ligação entre o pão com manteiga e a minha relação com a Joana. Mas há! Há muita. As relações com as pessoas tem que ser simples e saborosas … como fatias de pão do manteiga. Quando complicam perdem verdade. Deixam se ser para apenas ‘parecer’.
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