… Não gosto de me sentir a envelhecer. De acordar com sono. Não gosto de
ter dentro a sensação de tempo perdido. Não gosto de ficar em casa
com o sol a rua. Não gosto de saber que devia não ter feito. Não gosto do
sabor a arrependimento. Não gosto de treinar. Não gosto que me contrariem. Não
gosto de Gin nem de Vodka. Não gosto do meio termo, nem de gente que
fica a meio da verdade. Não gosto da mentira. Não gosto de janelas
fechadas, nem de portas abertas em casa. Não gosto de gente que dorme
com meias. Não gosto de chegar atrasado nem do desconhecido. Não
gosto de favas nem do cheiro a fritos. Não gosto que me faltem ao
respeito. Não gosto de sorrisos
falsos, de certezas absolutas nem de donos da razão. Não gosto da
areia da praia, nem do trânsito aflitivo no regresso a casa. Não
gosto de pão branco, de fiambre nem refrigerantes. Não gosto de me
sentir culpado quando como porcaria. Não gosto de não saber o que
vestir, de não ter o que vestir, de estar indeciso no que for. Não
gosto de festas só porque sim. Não gosto de mudar de assunto quando
alguém chega nem de me sentir a mais. Não gosto de não me sentir
amado, desejado, mimado. Não gosto de perder tempo no supermercado,
nas compras e gosto cada vez menos de não gostar de comprar na
internet. Não gosto de estar três meses sem viajar, uma semana sem
jantar fora e de não ter serões. Não gosto de cor de laranja nem
de casacos coloridos. Não gosto de monogramas nem de ostentar
marcas. Não gosto de não gostar. Mas gosto de ser assim. Não
gostando de tudo.
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