… E é isto!

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… Não será caso raro, mas não consigo ficar indiferente a esta carta que João Tordo, o filho do grande Fernando Tordo escreveu e publicou no seu blog. João está triste porque o pai aos 65 anos vai começar uma nova vida. Vai de mala ás costa e guitarra na mão procurar um luar onde possa ser mais feliz! Que estranho… é o pai que parte, quando supostamente – a partir alguém – deveria ser um filho em busca de um lugar melhor. Mais encantado. O caso da saída de Fernando Tordo para o Brasil, poderia ser apenas mais um caso. E na verdade é. Mas a carta do filho deixa-nos a pensar que caminho estamos a fazer. Fernando tem um capital de 65 anos de vida com dois terços dela dedicada a um Portugal que nunca foi grande pai dos seus artistas. Eu cresci com as letras, as cantigas, as emoções do Torto. Eu há muito pouco tempo tive uma tarde inteira com ele no youtube para trás e para  afrente, a mim, aos 40 anos custa-me perceber que um artista deixa o seu país para começar lá fora outra vez, depois de já ter recomeçados tantas outras quando foi preciso. Não estou a falar de um galã de novelas que vai começar uma carreira, ou de um manequim que se não trabalhar lá fora não trabalha cá de certeza. Falo de um artista. Daqueles que nasceram de uma casta que já não há muitos, que testemunharam a história e que de forma lúcida e coerente a podem contar. Daqueles que emocionam nas suas canções, nos seus poemas, nas verdades ditas da boca para fora… há muitos anos Fernando Tordo disse-me que ‘um artista que se nega a ir cantar de manhã à televisão ao vivo, não é artista. Esta coisa de só se cantar depois das quatro da tarde não faz sentido!’… Ele sabia o que dizia, porque ele é do tempo dos artistas. Não das vedetas que é uma coisa diferente. Oposta mesmo. Custou-me ler a carta do filho sobre o pai. Todos os dias filhos deixam os pais. E a vida segue. Mas custa-me parar uns minutinhos e perceber que o Portugal que me obriga a descontar mensalmente de forma quase pornográfica se esquece que a vida não se sustenta sem alguns pilares. Tordo pode ser ‘apenas’ um exemplo e podemos estar todos a pagar um factura cara de erros feitos no passado, mas não foram cometidos por mim! Não foram cometidos pela minha filha! E quem os fez está bem na vida, tem boas reformas vitalícias, tachos em cargos de administração, obras de arte em casa, boas contas no banco, anda bem sentado com bons carros e come nos melhores restaurantes. Os que falam da crise, os que a ‘baralham e dão de novo’ são igualmente lordes de um poder que usurpam como sendo seu, quase sempre em beneficio próprio. Eu não gosto de politica. Acho nojenta a maioria das formas como é feita. Mas eu voto sempre que sou chamado a isso. É o meu dever a minha obrigação. Portugal não acaba porque Tordo foi para o Brasil ou porque humedecemos os olhos com a carta do filho. Mas Portugal poderia parar para pensar, que quando um coração de filho, à noite na cama, imagina um pai aos 65 anos sozinho dentro de um avião em busca de uma vida melhor longe dos seus… é porque as coisas não estão tão bem como alguns ‘xicos espertos’ nos querem fazer passar. Não se iludam! Digo eu, que escrevo isto pela emoção que senti na verdade desta carta, que poderia ser de um filho padeiro para o pai pedreiros que vai para longe, que sentiria o mesmo. Entenda-se!

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