… Eu sei como funciona o mundo da moda em Portugal. O mundo das elites. Os grupo de pequenos amigos. Os jantares entre pares. Os encontros de conveniência. As iniciativas para os mesmos. Eu sei isso tudo, porque quase vinte anos disto deram-me de bandeja o melhor e o pior, mas até quando vamos fingir que não vivemos no mesmo lugar que João Rôlo e até quando vamos fechar os olhos ao tremendo sucesso que o criador português – o único que em Portugal faz Alta Costura a sério – consegue lá fora? Se continuarem a fazer muita questão de fechar os olhos, eu não lhe chamaria hipocrisia mas chamaria burrice, porque somos dos poucos que não lhe reconhecemos o mérito por trás de tanto talento que tem. No Festival de cinema de Cannes as criações de João voltaram a dar nas vistas pelo melhor, e um dos seus vestidos foi considerado no mundo inteiro como dos mais bonitos deste ano. A imprensa internacional fez questão de salientar isso e títulos como Elle Usa, Vogue Australia, Cosmopolitan Inglaterra, GQ Australia, L´Officiel Austria, Harper´s Bazaar destacaram o trabalho do criador pela positiva, enquanto nós aqui fomos assinalando o ‘feito’ com cautela e quase vergonha. Com medo do elogio. Eu sei, meus amigos que o João não pertence à elite que desde cedo chamou para si que a moda em Portugal seria sua, feita consoante o calendário da conveniência. Eu sei, meus amigos, que o João abusa na fantasia, nas cores, nas plumas, no excesso de drama, mas a alta costura – para quem sabe o que é alta costura – é isto. É isto e todo o trabalho feito de horas à mão que não se vê, mas que se sente quando se olha com atenção. É isto que se quer no mundo inteiro e se há lugar para ele, deveríamos estar orgulhosos por sabê-lo tão perto de nós, mas em vez disso, meus amigos, alguns das chamadas elites maduras daquilo que entendem e decidem que é ser fashion e tendência fechados entre dois ou três gabinetes, com dois ou três amigos, fingem não ver o sucesso do Joâo e renegam a custo para um segundo plano por puro preconceito. Eu, sei que é preconceito e sei até porquê. Mas metam lá esse horror de pensamento numa gaveta e olhem com olhos de ver. Não precisam gostar da pessoa, precisam dar valor, avaliar, enaltecer, reconhecer. Reconhecer! É a palavra certa, porque o homem é um ‘monstro’ na altura de fazer obras de arte em forma de vestidos. E isso, é um dom raro. Vamos reconhecer agora ou esperar que ele morra para dizer que era dos melhores? Ou que venda a sua empresa a um estrangeiro qualquer para passar a ser muito bom? Ou esperar que comece a assinar a sua etiqueta com outro nome porque fica com mais pinta? É isso que queremos? Continuar a viver uma elite de moda com a bainha do preconceito e com medo de reconhecer nos seus um presente brilhante? Eu acho que está na hora de dizer que este homem é bom. Muito bom. E Portugal se tem dos melhores, não entendo porque mete a cabeça debaixo da areia e procura lá fora o que tem cá dentro. É isto!
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