... Quantas e quantas pessoas já passaram, esperaram, olharam este hall? Nem importa saber quantas. De repente, só de aqui estar meia dúzia de minutos, já por aqui passaram dezenas de pessoas. Cada uma com a sua história. Lembro-me a primeira vez que aqui vim. Achei o hall bonito, agora está maior mais bonito, mas na altura achei-o deslumbrante. Uma cadeira enorme encarnada, umas portas de vidro largas que se abrem e fecham à medida que entra ou sai uma história. Esta hall é triste. É de passagem. É frio. De vez em quando invento a história de quem trabalha vestido de preto neste hall. Tenho uma fértil imaginação para isso e prefiro nunca perguntar a verdade não fosse eu ficar desiludido. Já esperei muito neste hall nos últimos anos. Acho mesmo que há caras que passam por esta porta de vidro que conheço, ou reconheço. Quem cá trabalha também me conhece. Trata-me pelo nome. É bom porque me faz sentir mais em casa, como se um hall pudesse ser a casa de alguém que cá vem uma vez por ano. Cruzam-se olhares. A porta abre e fecha. Ouve-se o silêncio da espera interminável do elevador. Agora este hall tem uma irritante música de fundo e já não tem a enorme cadeira encarnada. Tem duas poltronas pretas que ainda nunca percebi se é para me sentar lá ou só para decorar, porque este hall tem coisas que mais nenhum tem. Eu penso assim e talvez as muitas pessoas depois de passarem a porta de vidro também pensem. E talvez pensem voltar ao hall noutra altura da vida de cada um e talvez ainda com uma história diferente onde façam sentido as duas poltronas pretas, porque, agora pensando bem, não faz sentido terem gasto dinheiro nisto só para decorar.