… Hoje, como ontem. Ou talvez não!

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… Publiquei o outro dia uma edição de duas fotografias separadas por dois anos. Não é segredo para ninguém que sou seguido há anos por um terapeuta que muitas vezes me ajuda a entender as coisas. Porque acontecem, porque são vistas de certa forma e uma das tarefas que me aconselha a fazer é isto que fiz esta semana. Ver um registo que ache graça e passado tempo – na mesma data- fazer um igual. Olhar para eles juntos e perceber as diferenças… Como disse na altura, fisicamente existem algumas, porque dois anos não são dois meses e porque a idade a partir dos quarenta ajuda a que tudo se vá acentuando mais na direcção oposta. Mas o que o terapeuta quer e o objectivo do exercício é perceber a mudança interior. O que está dentro de uma e outra fotografia e que não se vê, não se nota, não se sabe e possivelmente não se sente, porque não há coragem para sentir. É preciso coragem para sentir, para deixar espaço e sentir. Temos muito medo de o fazer, não lidamos bem com a verdade de frente… pois aceitei o desafio dele, e fiz exactamente a fotografia igual, com as mesmas calças, no mesmo banco, na mesma parede e na mesma posição. Noto-lhe diferenças arrasadoras no interior. Se conseguirem façam o mesmo. Era uma pessoa que não sou passados dois anos. ‘Mudamos tanto’ é uma expressão que usamos frequentemente quando olhamos para uma fotografia, mas a mudança não está no corte cabelo, no peso nem na roupa que se usa (neste caso pouca, que eu acho graça assim) a mudança é dentro. Há dois anos tinha uma cabeça, uma ideia, uma forma de pensar e hoje, não estando muito longe do que pensava na atura, as ideias estão em outra direcção. Dois anos foram suficientes para perder algum encanto e mudar de direcção. Dois anos foram fundamentais para perceber que me entraram coisas como bagagem para nunca mais saírem porque nos marcam de tal forma que ou ficam ou ficam. Não há outra hipótese! Não são coisas más. Atenção, não se invente, imagine, nem coisa que o valha. O exercício é muito mais importante que qualquer coisa que se resume a uma banalidade mundana ou coisa que o valha. O que importa é o que está dentro. A mudança que sofremos quando o tempo passa, chama-se crescimento. As dores do crescimento dizem os entendidos no assunto. Podem ser dores que nos ‘sabem bem!‘ Juro que me diz isto muitas vezes, e eu não entendo no momento em que as sinto, ou que ele me diz, mas com a distância do tempo, percebe-se que ele tinha razão. E como dou conta disso olhando para uma e outra fotografia e percebendo o que sentia numa e noutra. Percebendo, principalmente o que se ganhou no espaço que as separa. Podemos olhar e preferir pensar no que se perdeu. Mas o exercício é de valorização, quer que valorizemos o que ganhamos de um lado a outro. Eu não sou o mesmo. Impossível! Tenho dentro de mim uma mala cheia de coisas que guardo preciosamente, que me aconteceram estes dois anos e que serão escritas para seu nunca me esqueça, porque são preciosas. O que temos de mais precioso são as nossas memórias. Não é a casa, o carro, a roupa, o corpo tonificado, nem a mesa guardada no melhor restaurante da cidade. Com a saúde, o que temos mais precisos são as memórias. Se as guardarmos, valorizarmos e tirarmos delas lições, somos ricos. É isto que tenho aprendido na terapia. Ainda não sou rico. Mas serei!

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