… Todos temos em casa um objecto que olhando para ele nos leva o pensamento para um lugar qualquer. Eu tenho muitos, porque eu sou muito de memórias. Por exemplo, ainda agora estava a tentar adormecer, viro-me na cama e … ouve-se um irritante e seco barulho. Mais não é do que o meu velhinho comando cinzento a cair no soalho do meu quarto. É isto. É isto todas as noites, até mais do que uma vez por noite. O comando está ali perdido em cima da cama, entre as mantas. Quase não o uso, porque estou preso no computador e a televisão está apenas por estar. A televisão está cada vez mais por estar. Esqueço-me dele e dela. Viro-me e pronto, o comando espalha-se no chão outra vez. É um barulho estúpido. O comando abre-se ao meio. Metade para um lado, outra metade para outro e as pilhas para onde a força as mandar… e é isto sempre, muitos sempres e muitas vezes. Lembro-me sempre (porque sou de memória) das vezes que este comando cai e o lembrar que desperta. E quando os olhos já estão cansados. Computador desligado. A televisão apenas com a chata luz azul de presença e o corpo a desfalecer sobre os frios lençóis brancos. Quando o silêncio toma conta de mim e o vazio da memória, eis que me viro, eis que o comando volta a cair no soalho. Eis que se abre ao meio. Eis que desperto para o encaixar. Deve acontecer a todos… Pudesse a vida encaixa com a mesma facilidade com que se encaixam as partes de um comando.
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