O Guincho chamava por mim. Chamava aos gritos com o suar das ondas. Parece hoje, e visto a esta distância, um verdadeiro disparate. Mas a verdade é que naquela tarde de final de Outono só conseguia ouvir o rebentar violento das ondas no rochedo gasto do guincho. O Guincho chamava por mim. Chamava com tanta força, que pensei que lhe ia atender ao pedido… Sentei-me à espera porque fui ali para trabalhar. Tinha chegado meia hora mais cedo, não com a intenção de ouvir um chamado do mar, mas porque tinha que pensar. Vinha vestido de branco. Dizem que o branco é sinónimo de pureza, eu pensava que sim. Era tão ingénuo… Pensava! Pensava com a mesma força com que ouvia a voz do Guincho. Estou ali parado, deixo de ver tudo à volta e dou comigo a perder o mar de vista. As minhas lágrimas podiam ter-se misturado com a água salgada que me salpicava o rosto. Não aconteceu, porque nesta tarde de final de Outono já não tinha lágrimas. Tinha pensamentos. Tinha soluções e achava que este seria o lugar ideal para tomar a medida que de uma vez por todas me arrancava das entranhas o que me consumia só porque sim. Não queria. Gosto de ser sereno. Gosto de saborear o que sinto e quero sempre sentir o sabor deste mar, que me escorre na cara… Era o Guincho a chamar por mim ainda e uma voz a chegar para me ajudar nas tais fotos. Não éramos, acho mesmo que não somos, os melhores amigos do mundo. Mas sabe Deus porque razão, ela soube ler nos meus olhos e sentir na minha energia que estava disposto a ouvir o chamado do Guincho. Foi um suave abraço apertado, umas palavras encostados ali a um carro com o sol a entrar-nos na alma que a ouvi. Entendi que vale sempre a pena, e que o bonito do Guincho, é poder ouvir o seu chamado sempre que queiramos. Mas somos nós que mandamos, nós é que decidimos chamá-lo, e o mar está lá para nos fazer sonhar, reflectir. O mar abraça o mundo inteiro e eu estou aqui, graças a ti disposto a abraçar o mar e a abraçar a vida. Não duvides, foi graças a ti.
Obrigado Filomena!