… E a Ana Marques lançou um livro e foi bonito. Foi bonito ver os amigos na sala, estavam todos os que interessavam. Foi bonito ver a família, as amigas do quarto da Vogue como ela lhes chama, a imprensa em peso a apoiar o desafio. Foi bonito vê-la de vestido às riscas, sorriso nervoso. Foi bonito e fiquei orgulhoso dela, porque conheço a história do seu livro desde o dia em que foi convidada para o fazer. Conheci-lhe a insegurança de temer expor algo que sempre tinha guardado para os mais íntimos. Sempre disse que o devia fazer, mas eu não sou bom conselheiro nestas coisas, que tenho por costume atirar-me de cabeça. Ela deve ter ouvido alguém – talvez a mãe. Ela é muito menina da mamã – e aceitou meter num livro de crónicas os 33 dias de pesadelo e amor que viveu na Maternidade Alfredo da Costa. Um livro cheio de graça, mas que não lhe retira um ponto da realidade ao estado de alma que a deixou ali entre a vida e a morte. Ontem à noite fui para a cama com ele. Com o livro, com a Ana, com as gémeas, com o marido da Ana, com as enfermeiras, com as migas do quarto, com a jornalista irritada, com a tensão alterada, com a dose de esperança certa que todos tiverem desde o começo… Não serei eu a pessoa ideal para destacar um livro escrito pela Ana, um livro no qual sempre acreditei – talvez mais do que ela no principio. Prefiro dizer-vos para o comprarem, que nem é caro nem nada, e desatem a ler as palavras à velocidade dos batimentos cardíacos. Vão sentir-se entre a cama da maternidade e uma sala de espectáculos de tão real e bem disposta que é a narrativa. Pode chorar, esboçar um sorriso, o que não pode é ficar indiferente às inseguranças de uma mãe que se viu ali encostada a uma partida do destino… Uma partida. Talvez apenas uma, das muitas que ele nos prega. Esta seguramente pior, mais grave, complicada, tormentosa. Outras há que nos magoam de forma diferente e que também passamos por elas e que um dia se transformarão em crónicas de um livro. A Ana é a mulher em televisão com quem tenho mais cumplicidade. Não gostava dela nem um bocadinho, nem ela de mim e quando nos mandaram trabalhar juntos achei um disparate de todo o tamanho. Mas apaixonei-me, eu pelo seu sentido de humor e ela pela minha capacidade de fazer tudo bem feito (toma, Ana Maria!). Chegámos para conquistar uma franja de horário na SIC difícil, e conquistamos. Tínhamos apenas um desafio: Não nos levarmos a sério! E não levamos. Fazemos a sério o nosso trabalho, mas não nos levamos a sério. falar de assuntos de natureza ligeirinha como aquele que tantas vezes falamos juntos, não nos tira a credibilidade, dá-nos a bagagem suficiente para levar a quem nos vê um sorriso e a atenção de que precisa… A Ana que eu encontrei no estúdio foi a Ana oposta aquilo que muitos pensam dela. Muitos dizem que esta gravidez a mudou e depois de ler o livro ficamos com a certeza que ninguém pode ficar igual depois disto. Talvez esses muitos tenham razão. Mas a genes humana estava já lá. Ela é uma boa amiga, companheira, como diz o marido faz muitas histórias e gosta de conversar. Conversar e sonhar. A Ana conquistou-me num minuto e eu não sou fácil de conquistar. Mas talvez por não ter feito expectativas em relação a ela as coisas correram tão bem. Talvez hoje, com mais três ou quatro pessoas, é a única a quem telefono quando me apetece, e desligo quando me apetece. Não fazemos a mais pequena cerimónia um com o outro, e isso é bom. Mas respeitamo-nos. Ela respeita os silêncios. Os meus silêncios. E eu, que respeito menos os dela, porque ela precisa mais de falar que eu, conheço-lhe os silêncios. É sonhadora, tem muitas expectativas, é mãe acima de tudo e antes destas coisas todas, está uma Ana que sonha com um lugar que é dela por direito. No mundo dos justos, ainda será!
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