… Quando era criança, nunca ninguém me explicou que o mundo não seria almofadado. Cresci muito depressa. Fiz-me bem-disposto, porque não entendo a vida de outra maneira. Vamos crescendo e, aos encontrões, percebemos que o que deixa de nos fazer criança não é o calendário. É a força com que a vida se agarra a nós e decide fazer o que quer. Imaginem um boneco de trapos nas vossas mãos, que o sacodem de um lado para o outro sem dó nem piedade… É isto que a vida nos faz. Não há tempo para nos explicarem que é demasiado cruel deixar de ser criança quando não nos tornam o caminho mais fácil. Devíamos ser crianças muito tempo. Talvez sempre. A idade da inocência é a mais feliz, mesmo quando achamos que pode não ser. Acreditamos mais, logo, somos mais felizes. Sabemos menos, logo, somos mais felizes. Eu defendo que os ignorantes são mais felizes. Somos sempre mais felizes quando ainda acreditamos em alguém ou em alguma coisa. Em criança, nunca me avisaram que um dia ia deixar de acreditar. Não se pode cortar assim, a meio, aquilo que pensamos do mundo. Nem me disseram isso, nem me explicaram que ia aparecer gente que me maltrataria, que iriam aparecer situações com as quais não conseguiria lidar, que ia ter contas para pagar, agenda para cumprir, ou que, quando crescesse, iria ter que construir uma máscara para enfrentar a idade adulta com a mesma verdade com que a imaginava em criança. Ainda assim, não me zanguei com a vida, nem tenho saudades de ser criança. A vida é demasiado feroz para me zangar com ela. Iria perder a batalha. Tenho a certeza. Em criança não sei, mas sei que quando crescemos pagamos uma factura muito alta quando trocamos as voltas daquilo que a vida tem para nós. Nem é uma coisa de destino, é uma coisa mais forte que nos custa pagar. Custa muito. Há uns que não a pagam, são caloteiros, há outros que pagam a factura com juros, porque são de fiar. Quem confia sofre mais, paga mais… Talvez seja mais feliz por ter as contas em dia. Um dia havemos de saber isso. Por enquanto fico bastante aborrecido, porque quando era criança ninguém chegou ao pé de mim e me disse, ‘Cláudio, vai devagar, que isto não é almofadado e podes magoar-te a valer.‘ Depois, não é um penso que cura a ferida, nem um punhado de chocolate a alma. Isso é mentira. Um e outro servem, apenas e só, para cicatrizar a pele e aumentar o perímetro abdominal. Não se iludam… Quem se ilude desilude-se. Aprendemos quando crescemos! Razão tinha ele: ‘o que queres ser quando fores grande?’ Pequeno, outra vez! Outra vez inocente para acreditar que a vida é uma criança que teremos que embalar, cuidar, respeitar, até que adormeça…
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