… Tenho uma dor muito grande aqui dentro do peito. O dia está glorioso, as ruas cheias de gente, as esplanadas cheias como gostamos. De vez em quando a vida prega-nos umas partidas, mete-nos à prova, esquece-se que somos humanos e que cá dentro, por trás do resto está um coração que tem que ser tratado com a delicadeza de uma casca de ovo, porque pode sair do seu ritmo e ele não gosta disso. Esta dor, provocada pela ausência, não abranda porque não vê justificação. Esta dor justificada pela saudade, permanece aqui aos bocadinhos saltitões na esperança de aquietar. Esta dor, justificada pela falta de gargalhadas, é teimosa e faz-me olhar sempre para a mesma fotografia. Esta dor maldita, devia ser arrancada do peito, mas está fechada à chave. Não sou eu que tenho a chave, sou apenas a fechadura. Esta dor, provocada pelo vazio de uma gaveta, tolda-me os dias e não me deixa dormir. Esta dor, provocada pela falta do barulho nas escadas de madeira, confessa ao coração que a vida é curta. Quando olhamos para trás já passou, por isso pede-lhe agora a chave, a ver se esta dor, provocada porque sim, desaparece de vez e com ela chegas tu.
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