.. Gosto muito do Natal. Gosto mesmo da quadra, de tudo o que a envolve de tudo o que me lembra e tudo aquilo que suscita em mim. Gostava que o Natal fosse mais uns dias, irrita-me que este ano seja vivido de braço dado com a palavra ‘crise’, porque ela – mesmo sem querer, coitada que anda na vidinha dela – nos tem obrigado a viver a quadra com mais cautela e sempre com o consciente alerta sobre o que podemos ou não fazer até à passagem de ano. A mim apetece-me esquecer o Gaspar, o TSU, os impostos, a austeridade e tudo o resto que junto não dava um bolo Rei, mas que nos dão cabo da cabeça. A mim apetece-me gozar as luzinhas das ruas, respirar o cheiro a presentes, a confusão de ultima hora,  as musicas que tocam nas mesmas colunas há duzentos anos, as versões foleiras dos cantores populares, o brilho nos olhos das crianças que ainda acreditam no Pai Natal ou que fingem que acreditam… A mim, apetece-me mandar às urtigas todas as pessoas que insistem em dizer ‘vamos ter cuidado com os gastos desta vez!’… Eu trabalho o ano todo, eu poupo o ano todo, eu tenho direito a fazer da minha vida o que quero. Comecem lá a fazer outras reportagens, a dar outras ideias e em vez de nos enfiarem a crise ‘pelos olhos adentro’. Ensinem-me a fazer embrulhos de Natal. Que ando a tentar fazê-los há 39 anos, e não consigo!