… A Quina de ‘Festa é festa’ é uma prima do Bino que vem para a aldeia da Bela Vida atrás de um futuro melhor, que nunca descontou para a segurança social, o que a atormenta é a sua velhice e a insegura que isso traz, depois de ter estado uma vida inteira na ‘labuta’ constante e a cuidar dos seus pais a quem nunca faltou nada. A Quina fala alto, diz tudo e da sua boca saem palavrões entre palavras. A Quina é o reflexo de muitas mulheres a quem a vida nem sempre foi fácil e que se revêem totalmente nesta Quina de Maria. Eu sempre disse que um dos ingredientes para o sucesso da novela, é que apesar de ser cómica e muitas vezes tocar o exagero, todas as personagens tem a humanidade de alguém, ou são inspiradas, ou existem, ou de facto nos identificamos com elas… Maria confessou que recebe manifestações de mulheres que se identificam com ela e que gostam do que faz no seu papel que tem um certo exagero, mas que tiradas as camadas por seu uma novela cómica, encontramos a realidade de muita gente que procura o mesmo que ela e da mesma maneira. Uma das coisas bonitas que esta Quina tem, é que o seu exagero não ridiculariza, não ofende, não atrapalha. Pelo contrário, de certa forma – e isto são palavras minhas – pode ser uma homenagem às muitas Quinas que este País conhece. Acredito que sim e por isso a reacção de quem vê seja tão boa. Maria Rueff é o oposto de Quina. É uma mulher discreta, tímida, o que muitos – não raras vezes – confundem com arrogância e que gosta acima de tudo de dar ao público a sua faceta enquanto atriz, porque sempre disse que ‘é isso que importa‘. Tem uma filha de quem fala orgulhosa e babada e tem uma coisa que eu estou convencido que muita gente não conhece. Tem um lado de actriz, que a televisão não tem oportunidade de mostrar que vai além do que a grande maioria sabe e que é extraordinário, porque eu já a vi fazer outras coisas no palco e esqueço-me que são feitas pela Maria Rueff. Eu acho que isso é uma mais valia, quando um espectador, que está sentado se esquece de quem faz e vê apenas a personagem, é seguramente um ganho para quem dá a pele ao que está no palco. A Maria consegue fazer isso, mas isso, ao contrário do que se pensa é um trabalho complicado, porque – imagino eu – quando se é muito conhecido e se tem uma grande exposição mediática, entregar ao outro, outra pessoa que não a que se conhece e que se reconheça isso, é de valor e seguramente um trabalho bem feito. É isto que gosto quando vou ver alguém ao teatro, de me esquecer quem está lá enquanto pessoa, e ver a penas a alma da personagem que faz a historia. A Rueff é um bom exemplo disso e outra coisa muito boa é o acto de ser ultra multi facetada, claro que a maioria dos actores são, mas não tanto como se imagina, porque não seria muito complicado arranjar aqui uma lista de dez nomes onde quem faz humor, faz sempre da mesma maneira e dificilmente faz outro género sem pisar o risco que o tornou popular. Hoje apeteceu-me escrever sobre a Maria, uma das maiores actrizes da sua geração e – apesar de nunca lhe ter dito – sinto que merecia um espaço de humor seu na televisão, onde mostaria o muito que faz com a linguagem critica que o País precisa, porque é bom rir e se a gargalhada nos trouxer uma lição ou mensagem, é outro sobre azul. Acho tremendamente injusto que não tenha um programa seu, não sei se é por opção ou não, mas gostava de a ver. Tenho esse direito!
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