Silêncio…

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Noite. Madrugada não se ouve nada nem aqui nem lá fora. A televisão mostar umas imagens mudas pelo comando cinzento que está no aparador branco do Ikea. Um carro do lixo interrompe este silêncio mundano para limpar a rua da sujidade humana. Em minutos vai-se embora e continua o silêncio. Nem um cão, nem um pássaro, nem um bêbado para me interromper este silêncio. O silêncio é cheio de tantas coisas quando o escutamos a sério. Pode ser um grito! Um grito violento… Amália escreveu, “do silêncio faço um grito. E o corpo todo de me dói. Deixai-me chorar um pouco…“. É isso: Vou interromper este silêncio e chorar, se o fizer, consigo ouvir a suavidade das minhas lágrimas a descerem a minha face rumo aos lábios. Fazem um estranho ruído que acaba num sabor salgado entre os meus lábios. Gosto do sal das lágrimas, fazem lembrar-me o sal do teu corpo…
Continua tudo em silêncio. Porque não se pode chorar até vir outro carro do lixo, e levar a sujidade humana que tenho agarrada a mim? No grito de um silêncio voluntário porque não nos queremos ouvir, fica-se seco e gelado. Nesta noite ou noutra qualquer, porque não se ouve nada, nem aqui nem lá fora.
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