… Tem sido isto. Uma mistura constante!

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…Passei há já alguns dias a  minha quinta semana de isolamento social. Não sou caso único e nem sabemos quanto mais tempo vamos estar assim. Todos os dias quando acordo tenho o sentimento misturado dentro de mim. A vontade de ir trabalhar e a certeza de que tenho sorte em poder ficar em casa e não ser necessário na linha da frente para fazer frente a este maldito vírus onde estão tantos que por nós- dos que ficamos em casa – saem a cada dia para que Portugal siga em frente o melhor que pode… Em casa inventamos rotinas novas e chegamos a um ponto onde o novo, dois dias depois, deixa de o ser e há em cada um de nós a urgência de voltar a inventar e reinventar o dia  e o que fazer a seguir, quando entro num desses momento, foco-me no bom. Venho à varanda e foco-me só no positivo que podemos tirar disto tudo – alguma coisa de boa tiramos disto – e na varanda penso muito naqueles que vivem em casa o desespero de não terem uma janela grande ou uma varanda pequena para onde se possam escapar. Juro que penso, porque é preciso encontrar um escape. Óbvio que sim! O meu está no exercício, no trabalho e na varanda de casa porque é aqui que visualizo o resto é não raras vezes me sinto privilegiado por a ter quando sei que muitos não têm e um espaço destes significa agora mais do que alguma vez significou porque são os olhos do mundo lá fora e a única maneira que os podemos ver frente a frente. O outro dia entrei em directo no programa da Fátima na Tvi e falávamos da solidão dos mais velhos. É muito neles que também penso. Nos mais velhos e nas crianças. Uns porque se sentem muitas vezes abandonados pelos seus porque não entendem que o afastamento agora é o melhor amor que temos para dar e os outros porque é difícil explicar-lhes que tudo isto nos escapou das mãos. Como é que um adolescente que se acha senhor de razões entende de ânimo leve que de um momento para o outro parou a sua vida social? Deixou de estar com os seus amigos? As festas terão de ser adiadas?…. a verdade é que é difícil lidar domesticamente com esta gestão que também é preciso ter e que muitas vezes pensamos que o momento é demasiado delicado para nos preocuparmos com pergaminhos e bordados desta natureza, porque o que importa é isto: gente a morrer todos os dias, infectados todos os dias em números assustadores, hospitais quase em colapso, sistema de saúde comprometido… Esta é hoje a realidade. A nossa realidade é esta. Depois será a da crise que se instalará com vontade de ficar muito tempo. Desta varanda onde me encontro imagino o medo nos olhos das pessoas por não saberem o que lhes vai acontecer. Lembro-me dos avós que não podem estar com os netos e se sentem abandonados ou de crianças em casa com vontade de estar na rua a viver a sua infância… talvez seja despropositado pensar nelas com tanto detalhe quando há gente a lutar pela vida e pelo futuro com todas as forças… Eu não me acho egoísta por pensar assim porque a razão está de todos os lados e o equilíbrio estará algures no meio de tudo isto, mas da minha varanda inquieta-me a incerteza do futuro onde apenas temos a certeza que isto acabou de começar. Inquieta-me isso, mas inquieta-me ver avós sem netos, crianças em casa e gente a lutar pela vida. Não é egoísmo distribuir o pensamento por vários lados. Não há culpas nem culpados nesta história que parece um filme de ficção daqueles que não gosto porque não gosto nem do sofrimento, nem do tormento , nem da dúvida. Não gosto. Nunca gostei. Ponto! Continuarei em casa o tempo que for preciso a cumprir o meu papel de cidadão responsável grato porque a minha mãe, na sua maior idade, pode ter a maioria dos filhos por perto e feliz porque a minha filha é uma privilegiada por ter quintal grande que pode aproveitar e onde pode ver o por-do-sol se lhe achar mais graça que a uma série da Netflix. Porque tratando-se de uma adolescente nunca se sabe.

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