… Um dia com a Senhora Dona Simone!

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… O pretexto para a conversa com
Simone de Oliveira, foi o lançamento da sua Biografia ‘força de
viver’, que ao mesmo tempo celebra 75 anos da artista. Mas claro que
esse seria apenas o pretexto. O resto viria por acréscimo. Simone
recebeu-me na sua casa no centro de Lisboa, a casa onde vive há
décadas, entalada entre o Principe Real e o Bairro Alto, lugares que
conhece de ‘cor e salteado‘. Uma casa pequena,
confortável, cheia de recordações. Daqueles que só de olharmos
para a parede conseguimos ficar emocionados. A conversa é feita num
tom inimista, a meia luz, Simone é acompanhada sempre por um
cigarro, ‘é uma companhia. Uma boa companhia!‘. Começamos a conversa por ai. Pela solidão
que se pode ter aos 75 anos mesmo sendo a Simone de Oliveira, não
que ela se queixe, mas porque é um facto nos dias que correm, ‘tenho
amigos naturalmente que sim e uma família maravilhosa mas cada um
tem as suas vidas e eu não gosto de incomodar, o que me custa mais é
a parte da tarde, é uma hora critica….’.
Hoje custou-lhe
menos, porque estivemos à conversa. As conversas com Simone
atravessam tempo e espaço à velocidade da sua memórias ‘tal
como se pode ler no livro, que não é exactamente uma biografia mas
posso dizer que são bocados de mim, que fui lembrando e que achei
que poderiam ser publicados’
. Está sem trabalho há
meses, ‘aborrece-me isto, aborrece-me estar parada, claro que o
dinheiro me faz falta, mas o trabalho faz-me mais falta ainda!
‘.
Pergunto se não será por ser a Simone de Oliveira e as pessoas
acharem que só aceita fazer determinados papeis, ela nega. Diz que não se
lembra de ter recusado uma proposta de trabalho. Simone tem uma vida
confortável, ‘não sou rica, devo ter ganho muito dinheiro,
porque ajudei muita gente, formei os meus filhos, tenho esta casa que
é minha e não me posso queixar…’
. Simone olha para
este Portugal de hoje, ‘com muita raiva! Tenho que apelar aos
jovens para não desistirem, mas a verdade é que este é um País
muito complexo, já o era quando eu comecei nas cantigas, continua
assim, há coisas que não aceito e por isso incómodo!’.

Fala de forma visceral, entoa a voz que quando o assunto é mais
quente, fica ainda mais colocada. Será que nunca foi tentada pela
política? ‘Não!Não aceitaria nunca, não sou comprável!‘.
Vê-se nos olhos a certeza da resposta, os olhos que sem querer de
vez em quando dão a volta à sala. A esta sala onde ‘fui tão
feliz com o meu Varela’
. É impossível falar com ela e não
falar de Varela Silva, ‘um homem extraordinário!’
Como é viver há tantos anos sozinha nesta casa? Emociona-se. Demora
na resposta, respira fundo. ‘Difícil, muito difícil. Já foi
mais… passei por varias fazes, mas é muito difícil’
. Não
consegue controlar a emoção. Do alto dos seus 75 anos deixa o
conselho, ‘aprendi com a vida que só o tempo ajuda a que as
dores fiquem mais leves… só o tempo!’.
 O Barco teve alturas que foi pesado, ‘pesado demais!‘. Simone, não queria voltar atrás, apesar de
ter saudades da sua infância. Hoje, ouve música clássica numa aparelhagem, é
a banda sonora dos seus dias. Dias que ultimamente se têm tornado
longos pela falta do que fazer. O telefone toca, do outro lado
alguém que lhe vem trazer uma encomenda. Não lhe perguntei quem
era, mas perguntei-lhe quem ela gostava que fosse ao telefone? ‘uma
proposta de trabalho! Já que não pode ser o Varela!
‘. 
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