… Um dia disseram-me que era ‘teimoso e que não desistia por teimosia‘. Não acho nada que seja verdade. Acho que não desisto daquilo que gosto e em que acredito até perceber que não faz sentido continuar. Mesmo que o resto do mundo tenha desistido, eu resisto se for essa a minha vontade. Não sou dos que insiste só porque sim, isso é infantilidade, mimo, birra, capricho. Eu, aos 44 anos, sei exactamente a diferença entre um capricho e uma vontade. Um capricho desaparece com o tempo, faz-se a birra de umas horas e desaparece, acontece com a crianças quando não lhes damos um brinquedo. Encontram outra distracção passadas umas horas e… esquecem-se. Uma vontade é diferente. É um espaço que fica dentro do corpo vazio à espera de ser preenchido com aquilo de que não se desiste. Pode o mundo achar o contrário e a vida entender que não é o momento, mas a vontade fica. Sossegada e alerta, mas fica. Não sou de desistir de uma vontade, não porque me acham teimoso, mas porque eu sei o que me faz bem. Regra geral, as vontades que tenho fazem-me bem à vida. São pedaços de coisas boas que preencherão na medida certa o espaço que precisa ser preenchido. A idade trouxe-me com o tempo a capacidade de perceber a diferença entre teimosia e vontade. Não se atrevam a chamar-me teimoso. Eu preferia, em casos destes, que me chamem corajoso. Não é qualquer um que aguenta sem desistir. Não desistir de algo, de uma coisa ou alguém, é a mais limpa forma de amor. Desistir é sempre o mais fácil. Tenho a certeza que sim.
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