… A Rádio antes da Televisão!

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… Por estes dias assinalou-se o dia mundial da rádio. Durante anos a rádio foi-me fascinante. Foi ali que comecei um caminho. Desdobrava-me a trabalhar para conseguir pagar as contas e não me sobrava um tostão ao fim do mês, melhor dizendo, faltava muitas vezes. A minha entrada na rádio aconteceu num verão. Não tinha voz, era muito miúdo e ali fiquei a arrumar discos, a atender o telefone e depois a vender publicidade. Ali fiquei um ano e pouco. Em novembro estreei-me ao microfone. Não estava nervoso, estava ansioso porque queria continuar. Gravei publicidade, substituí uma colega e aprendi com todos os que conhecia. Nunca imitei ninguém, encontrei um estilo, e isso fez com que o convite chegasse para ter programas regulares. Programas onde ouvia. Gosto de ouvir! Tive em várias rádios vários programas, quem faz rádio sabe que a grelha se reforma muitas vezes com a vontade e necessidade de “baralhar e dar de novo” com cheiro a novidade. O meu último programa de rádio foi na delegação regional da Rádio Renascença em Elvas. Ali estive quatro anos todas as manhãs entre as sete e as dez a acordar o Alentejo com as Manhãs da Renascença. Aprendi tanto… No interior, a rádio, de imensa que é, acaba por ser pequena para quem quer mais. Ainda tentei organizar a minha vida de forma a ter o pé num projeto que orgulhava tanto uma equipa. Aos poucos o imenso fica muito longe. Mas foi há mais de 25 anos que dei de caras com essa paixão. Aquela onde conta a emoção da voz, o ouvido se torna um a quem facilmente reconhecemos a voz. A rádio é a imagem a poder ser despenteada. Vinte e cinco anos depois é muito tempo. Muita coisa acontece, muitos amigos se perdem, muitas memórias se acumulam. Aos que por lá passaram, e estão agora a ler este texto, lembrem-se que tenho presente a correria à entrada na rádio, na procura da música com maior duração para dar tempo de beber um café antes de ligar o microfone, os nervos ao falar de desporto do qual percebo ainda hoje zero, o prolongamento do tempo mesmo depois da emissão fechar. Durante muito tempo, num estúdio de rádio falava sobre o sonho da televisão, de como seria bonito fazer o que ali se fazia mas com imagem. Muitos diziam que perderia a magia. Talvez sim, não sei… O que sei é que a rádio é para fazer ao ouvido e a televisão é para se fazer de corpo inteiro. Ainda hoje, quando ando de carro de um lado para o outro, escuto vozes de rádios locais e dou-lhes muito valor. Eu sei o que é estar ali. A trabalhar dependente de publicidade, de patrocínios, de uma luta constante e diária para que dois ou três não deixem cair o projeto. Eu sei o que é acordar cedo, abrir, sem companhia, uma porta pesada, ligar sozinho um microfone e do outro lado perceber que as pessoas estavam coladas a nós, nos seus afazeres de casa. Sentiam a nossa falta. A falta da nossa voz quando não estávamos. Eu sei que muitas dessas pessoas torceram para que eu deixasse aquele microfone de estúdio, pesado, vindo de uma mesa cheia de botões que me baralhavam, esquecesse a voz colocada para que me fosse metido um micro- fone de lapela e fizesse ouvir esta voz estranha que me sai de dentro. Eu sei que sim. Obrigado!

 

 

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