…Sou jovem para ser velho!

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... Com o avançar do tempo, olhamo-nos ao espelho e percebemos que temos coisas novas em nós, paramos para pensar e chegamos à conclusão de que estamos melhor, sabemos mais, temos história, mas que nos falta qualquer coisa. Pode acontecer não conseguirmos identificar o quê, não encontrarmos a peça que falta e resta-nos esperar que o tempo faça o seu trabalho. Mas há casos em que detetamos imediatamente o que falta, porque falta. Sabemos exatamente o que queríamos muito ter agora, como quando tínhamos aos 20, 30 ou até aos 40… Há anos, eu não tinha estas manchas na pele que me lembram que a idade deixa as suas marcas, não que me aborreçam ou incomodem, mas fazem-me pensar que, de facto, as coisas não são como eram antes. Quando era mais novo, lembro-me de dizer em voz alta que gostava de rugas. Tenho muitas que se acentuaram bastante neste par de anos, não morro por causa disso. Os cabelos brancos dão charme? Dizem que sim. Mas não precisava de ser já! Podiam esperar mais uns anos. Todos pensamos assim, por isso andamos desenfreadamente à procura de retardar os sinais que nos vão dizendo que a nossa fase é outra. O pior é o resto. E o que é o resto? A memória. As memórias. O que fica para trás… não gosto de perceber isso. Não gosto de perceber que há tanta coisa que já não tenho, que já não faço, que já não quero, que já não gosto. Mas que tinha, que queria fazer, que antes não vivia sem. A década dos 40 é definitivamente a entrada noutra fase. A fase da saudade e da insatisfação, porque, por um lado, já não somos jovens, por outro, ainda somos jovens para sermos velhos… A fase em que a minha filha se tornou adolescente, eu deixo de ser (por enquanto) prioridade na sua vida, a fase em que os amigos fazem as suas vidas cada vez mais longe da nossa, que as decisões são tomadas cada vez em maior solidão. E os fins de semana se tornam piores por critério, porque é preciso descansar para a semana, ou opção porque já não é preciso provar a felicidade a ninguém. Ou se é, ou não se é! Parece que neste momento não há meia felicidade. Ou está toda a gente muito feliz à nossa volta, ou muito infeliz. Gostamos cada vez menos de mais coisas, porque à distância tudo nos parece menos do que podia ser e muito exagerado quando vivido por outras pessoas. Acho que os 40 podem ser uma espécie de “pré-adolescência” da maior idade, onde brigamos com o mundo porque queremos ter muitas mãos para agarrar tudo até lá chegarmos. Somos, a esta idade, aquilo que a vida fez de nós? Ou somos o que quisemos ser? Esta é a verdadeira questão. Os que já por aqui passaram arriscam-se a pensar na resposta, porque depois dos 40 não é justo ‘deixarmo-nos ir’ só porque sim. É fundamental que o caminho seja definido por nós. Se for errado, teremos tempo de nos arrepender. Pior seria olhar para trás e perceber que não o fizemos, não ter nada do que nos arrepender. É a realidade a dar de caras com as circunstâncias que a vida construiu para nós. E isso não se disfarça com o exercício fisico que fazemos desenfreadamente na expectativa que o espelho não seja a imagem daquilo que temos dentro. Valerá a pena manter um foco destes, quando sabemos muito bem que mais não é que adiar a verdade? Muitas vezes acho que não. Que não adianta… quando tiver a certeza, desisto!

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