… Quando eu era muito pequeno, já achava que o mundo era grande. Enorme! Sonhava sentado numa escadaria de pedra antiga num quintal grande de uma casa alentejana. Sonhava com o dia de hoje. Não media, nem podia imaginar o caminho nem as consequências dele. Fui sonhando sempre ao longo da vida. Um degrau mais acima, outro mais em baixo. Fiquei parado algumas vezes, mas nunca desisti nem baixei os braços. Gostava de cantar agarrado a uma escova de cabelo. Imaginava-me a apresentar festivais, a fazer novelas, a entrevistar-me a mim próprio. Dançava e sonhei ser bailarino. Tinha muitos amigos e adorava fazê-los rir. Gostava de ser o centro das atenções. Não gostava do carnaval, porque nunca achei graça a máscaras. Gostava dos santos populares vividos na Vila e dos Natais à volta de uma lareira. Era feio e tinha alguns complexos que com o tempo tranformei em qualidades. Andava vestido igual aos meus irmãos. Comia um corneto ao Domingo e não podia andar na rua até depois das nove da noite. Adormecia com o Vitinho e rezava. Rezava sempre. Ainda hoje rezo – ou converso com Deus – para que nunca me esqueça que quando eu era muito pequeno, apesar de tudo, já sabia que o caminho seria menos fácil. Mas faz-se.
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