… O dia de hoje foi bom. Produtivo em termos de trabalho, mas inconfesso-me saturado de estar frente ao ecrã do computador. Começo de semana é dia de ir ao supermercado e hoje vale mesmo a pena. Nos corredores atarefados entre promoções e muitas ofertas oiço uma voz a tremer… “desculpe! Desculpe. Já ando atrás de si há algum tempo!”. Era uma senhora, que me disse depois que tinha setenta anos e que me chamou carinhosamente de “principezinho!“. falou-me do filho que está fora e da companhia que lhe faço há anos! Os olhos da senhora, que a medo me pediu um “abracinho“, encheram-se de lágrimas quando parei as compras e lhe dei atenção. Chorou. Não aguentou e chorou. Emocionei-me também, discretamente. Acredito que não o tenha feito por ter falado comigo, mas acredito também que ao longo do seu dia eu talvez fosse a única pessoa que ela “conhecia” e que parou para a ouvir. Claro que sou abordado na rua várias vezes ao dia e por falta de tempo, porque também estou cansado ou simplesmente porque faz parte da rotina, respondo quase de forma automática , mas desta vez foi diferente. Não foi muito tempo, mas o suficiente para o coração da senhora voltar a bater ao ritmo certo. Ela era janota dizia-se “velhinha“. Quem me dera chegar a idade dela, com a energia que me passou… continuei as minhas compras, e meia hora depois, quando saía do supermercado, voltei a encontrá-a. Estava à minha espera, “não me leve a mal, mas comprei-lhe uns after-eight que deve gostar. O meu filho todas as noites comia um depois de jantar…” e colocou discretamente o pacote de chocolates no meu saco de compras. Levar a mal eu?… Quem sou eu para levar a mal tamanha lição de vida.
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