… Periferia de Lisboa numa acção de formação, “Orgasmo? O que é isso, senhor Cláudio?!”. Fiquei estupefacto. Sei que há muitas mulheres que não sabem, não sonham e nunca sentiram um orgasmo, mas confesso que no meio de uma sala ceia de gente fiquei gelado e reduzido a pouca coisa quando ao falar de orgasmo feminino, inocentemente a mulher me perguntou com o ar mais estranho do mundo de que falava eu. 47 anos, um marido, dois filhos, um ar desempoeirado e a viver a vida sem nunca ter sentido um orgasmo. Como se explica o que é, sem roçar a vulgaridade e sem ferir o orgulho de quem, numa sala, resolve assumir que nunca o sentiu de verdade em quase cinquenta anos de vida. Como se faz? Escava-se um buraco e enfiamo-nos lá dentro, ou enfrentamos o problema e explicamos que o melhor a fazer nesta altura é esquecer o marido e tentar descobrir-se sozinha frente a um espelho e com os seus dedos. Que estranho… o orgasmo, tal como o pão, a água ou a luz eléctrica fazem parte do nosso dia a dia, mas a verdade é que se há muita gente que não tem nem pão, nem água, nem luz, porque haveria de ter o direito a um orgasmo? Que mundo cão este. Que mal distribuído e que injustamente cruel para a sua grande maioria: as mulheres, que ainda que caladas, perguntam muitas e várias vezes “o que será um orgasmo?!”
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