Por
Chapéu de chuva…
A única coisa que se ouve hoje é o chapinhar dos pés nas poças de água que ficaram cheias ao longo da trovoada que apareceu esta noite. Choveu muito. Os guarda-chuvas são inundados de pingas, que todas juntas em muitos guarda-chuvas fazem como que uma sonata molhada. Não vejo a cara de ninguém. Não interessa! Já não estou no meu corpo, sou o meu espirito e sai de mim, vejo-me a flutuar e quando olho para baixo, vejo apenas chapéus de chuva, molhados. São quase todos pretos e castanhos. Há apenas um em tom encarnado, não sei de quem é, mas deve ser teu, que levas a vida a rir. Uma vida despreocupada. Eu, agora espirito, usei sempre um chapé de chuva preto. É natural! Vivi a vida com preocupação. E de que me valeu isso? De que me valeu ter as contas em dia, ser justo com as pessoas, correcto com os outros, profissionalemente brilhante, amigo do meu amigo… Não me valeu de nada. Hoje, ás sete e meia da tarde, estamos no cemitério. Mais uma vez, juntos no mesmo lugar. Tu a ver-me ir de uma vez por todas, sete palmos abaixo da terra. Oiço agora os punhados de terra que me mandam para cima do caixão, dizem os antigos que são saudades. Tem graça, tu não mandaste o teu punhado de terra. Continuam os chapéus de chuva a ser molhados por pingas constantes estão todos juntos. Curioso… o encarnado afasta-se. Faz agora par com um castanho. Admiro-me?! Não. Nada me admirava já em vida, o que dirá depois de morto.
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