… E voltei a ver Chicago pela terceira vez só que desta com a renovação do elenco. Inês Herérdia e Vanessa Silva. Não vou comparar elencos, não gosto disso. Cada um tem a sua forma de estar em palco e entrega ao que faz. Importa que gostei. Gostei muito porque viajei e quando isso acontece num espectáculo é porque vale a pena repetir e eu sou dos que repete espectáculos quando eles me marcam e me fazem sentir num outro lugar. Malditos tempos estes onde quase não conseguimos respirar para lá de uma máscara, abençoados escapes que encontramos para que nos possamos esquecer de tudo o resto e apenas ir… não há nada que nos ofereça uma viagem mais rápida que uma peça de teatro boa. Muito boa. Um Musical como Chicago tem tudo o que precisamos para que durante quase duas horas nos imaginemos em outro lugar. Num lugar onde entre ironia, comédia, verdade e muito boa engrenagem percebemos que o teatro é um espelho da vida embrulhado em fantasia. Este é um bom espectáculo e por isso deve ser visto ( e revisto se for o caso). Foi, como vos disse, a primeira vez que vi a Inês em palco, arrebatadora, porque é impressionante como a mesma pessoa que durante o dia grava cenas de ‘Nélinha’ no Festa é Festa se ‘despe’ dela e nos surpreende com uma maravilhosa Roxie no palco do Trindade. Não é tarefa fácil conseguir que se olhe para Ela e esquecer o que faz tão presente e marcante na novela, por isso deve estar mega orgulhosa deste feito porque conseguiu que dois minutos depois eu já só visse a Roxie. Depois temos a Vanessa que vi crescer para todos os lados e que representa ‘o musical’ em Portugal como poucas, a sua Velma conquistou-me porque ela é uma mulher destes palcos. Tem a escola de tudo o que os rodeia e vê-la neste musical – especialmente neste – deixa-me orgulhoso do caminho que fez até aqui chegar. Chegou e pode ser apreciada com todo o seu talento num belíssimo espectáculo onde Zé Raposo contacena com o filho Miguel e onde os dois nos dão um bailinho de representação. Ver Zé Raposo em palco é sempre uma espécie de masterclasse de representação, vê-lo com o filho – que vai brilhante – emociona. Já me tinha emocionado na primeira vez que os vi juntos neste palco. Não quero deixar de mencionar uma única pessoa deste elenco, deste corpo de baile, desta orquestra, destes desenhadores de luz, de cenários, de guarda roupa… porque não há nada que não me parecesse perfeito. A encenação do Diogo Infante consegue que tudo ali aconteça de forma tão orgânica que Diogo conseguiu que as emoções se passeassem por nós em estados vários que oscilam entre a mais pura realidade e o exagero absoluto. Há dentro deste musical uma bofetada de verdade que se for entendido reflecte a vida de muitos. Os egos, as vaidades, as verdades, as mentiras, o diz que disse, o sonho, a mentira, o submundo o mundo por cima de todos… Podia estar mais umas quantas linhas a escrever sobre Chicago, mas gostava mesmo que o fossem ver. Gostava por várias razões, mas a principal prende-se com o facto de não existir melhor forma de agradecer o trabalho de uma equipa que aplaudir o seu feito se o apreciarmos. Aqui não há dúvidas. Não falha nada. Não falhou em nenhuma das vezes que vi. Está no teatro da Trindade. A cultura é segura e mantém-nos vivos.
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