… O amor não se mede. Há ali qualquer coisa que nos impossibilita ver até onde vai. Esta madrugada enquanto dormias, eu dava voltas à minha cabeça. De como passaram estes anos, de como estás crescida, de como és feliz aninhada entre a cama ‘muito grande do pai‘ mesmo que faças questão de te encostar para me sentir presente… Aos poucos começam a chegar as tuas primeiras inseguranças. Tenho medo. De vez em quando tenho medo. Esta noite tive medo. Olhar para ti e pensar que de repente passam mais nove anos e tu tens 18 e eu posso não estar à altura. Mas vou estar lá, sempre… O que de vez quando peço a Deus é que nunca deixe que me faltem as forças para que eu nunca te falhe e tu nunca percas a vontade de me chamar quando precisares. Assim como chamas hoje por nada e coisa nenhuma e eu te digo ‘Leonor, gastas-me o nome‘. Eu sei que não vai ser sempre assim, que aos poucos vais ficando mais contigo, com os teus segredos, mas não quero nunca que deixes de me querer sentir por perto. Um dia. um dia lá longe, vais perceber o complicado que foi gerir muitas coisas, mas que nesta gestão complicada entre a vida prática e o bater do coração, espero nunca deixar de perceber o que precisas, no momento que precisas. Quando olho aqui para ti, a horas altas da madrugada sinto-te o sono. O teu sono é diferente de todos os outros. É tranquilo, sossegado, e barulhento ao som do xuxar no dedo. Quando se ama muito um filho perde-se um pouco a identidade. Não me lembro muito bem de como era eu antes de te conhecer. De vez em quando tento lembrar-me do que fazia, como fazia, como decidia as coisas. Tu és um travão nesta minha maneira intempestiva de ser. Tudo o que faço é pensado em ti. Um dia, lá longe, vais perceber que fiz coisas a que não achaste muita graça, mas que fizeram sentido. Que fazem sentido… Estás tão bonita! Responsável, cuidadosa, atenta… que orgulho ver-te hoje antes de adormeceres preocupada em estudar ‘Estudo do meio’ sem ninguém te mandar estudar. Que emoção ouvir-te perguntar ‘pai, como está o teu coração?‘ cada vez que me vez à hora certa tomar o comprimido. O pai não é o super-homem, mas é o ‘inventor de coisas’ que tu dizes. Vamos sempre juntos andar ali de mão dada a inventar a alegria em cada passo que damos juntos. O tempo passa num instante, num abrir e fechar de olhos estamos crescidos. Tu e eu. Eu com mais cabelos brancos, ‘tens que pintar pai, senão ficas como o meu professor!’, observaste hoje, depois do banho que achas que já sabes dar sozinha, enquanto te cortava as unhas… Esta mania de quereres que seja apenas eu a cortar-te as unhas. Tu mudaste a vida de todos nós. Todos te gostamos tanto, tanto que nem que tu quisesses conseguias desenhar numa folha branca das maiores, igual aquela onde hoje desenhaste a ‘planta da casa da mãe‘ o tamanho do nosso gostar. Amanhã é dia de acordares estremunhada sem vontade nenhuma. De não te apetecer tomar o pequeno almoço, de ligares a televisão assim que abres os olhos, de cortares o cabelo, de reclamares quanto te penteio e peço para o apanhares. É dia de teres prova de estudo do meio, de desceres a rua com a Gabriela pela mão, de criticares a comida da avó que acabas por comer, de te aventurares com as tuas amigas em conversas de crescimento que guardam a sete chaves com vocês e que ficam para sempre. Mesmo que esse sempre dure só mais um ou dois dias. Amanhã é dia de vestires o pijama quentinho e aninhares o teu corpo no da tia Áurea e adormeceres com o dedo na boca enquanto vais pensando no dia de depois de amanhã, e depois do depois de amanhã e no depois… porque os dias e os sonhos de uma menina de nove anos não têm fim. Não se medem, como não se mede o amor. Dorme bem, meu amor!
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