… Ela faz de mim um pai feliz!

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Não sou de assinalar dias. Não acho que por serem importantes devam ser assinalados, pelo contrário. Acentua-se a diferença se existir. Mas com o dia do pai há aqui qualquer coisa que mexe comigo e me faz reflectir sobre o meu papel de pai, mais agora com o mundo virado do avesso e longe daquele mundo que imaginamos ser o melhor para os nossos filhos. Na altura que escrevo estas linhas estou em isolamento a 200 km da Leonor que está a cumprir o seu papel de cidadã responsável em isolamento, em casa fechada também há dias. A noção de responsabilidade da Leonor orgulha-me. Par uma adolescente estar em casa não é o mesmo do que para nós, que temos mais de 40 anos. Ou pelo menos, não para a maioria de nós. O simples feito de ficar em casa por si não me aborrece nada. Gosto de estar e sou muito boa companhia de mim mesmo com as coisas que tenho à volta. Mas um adolescente não é assim, ou na maioria não é… Nesta fase ditam as regras do novo mundo que tenhamos todos de passar por isto, incluindo eles. Incluindo ela. Tem mantido as suas rotinas, os seus horários, as aulas on line e aproveitado, pelo que me conta, para pensar no que quer fazer daqui a 3 anos quando acabar o secundário… Não sei se existirá entre os pais, satisfação maior do que ver os nossos filhos crescer na direção que acreditamos ser a acertada. Penso muito na tal história das “decisões acertadas”. Quem somos nós para achar que o melhor para eles é uma coisa, outra, isto ou aquilo? Os filhos não são nossos, são do mundo, não é? Mas o que gosto de perceber, naquilo que é a minha experiência, é que a minha filha percebe bem aquilo que quer, o que deseja, que tem os objetivos definidos, ainda que mudem com frequência, o que é natural nesta idade… O que percebo na Leonor é a enorme lucidez no discurso e a grande generosidade no seu dia a dia. Nas conversas que temos, percebo que me quer fazer entender que este momento é dela e dos seus amigos, do mundo que criam uns com os outros – hoje devem estar todos ligados (ainda) mais que nunca no mundo virtual das redes e chats de conversas. Já fui adolescente, tenho irmãos mais novos, e sei que esta fase é muito importante para ela e para todos da sua idade. É preciso deixar os filhos viverem a sua adolescência. Claro que temos de estar alerta e atentos, o mundo não acaba ao alcance dos nossos olhos, mas dá muita segurança perceber numa conversa que os nossos filhos percebem o que estão a fazer e entendem o caminho… Não me aborrece que a Leonor mergulhe mais de metade do seu tempo livre na vida de adolescente com os amigos e amigas, com as aventuras que tem nesta altura, ou que passe muito tempo no telefone. Faz parte e faz muita falta. O que me iria aborrecer e preocupar era perceber que a minha filha, um dia, precisaria de mim e eu, à distância de uma divisão da casa, não estaria ali porque não falaria a mesma “língua” que ela. Isso é o importante. Não é o estar a toda a hora, sufocar, questionar, indagar. Isso não é nem bom, nem importante. Importante e fundamental é fazê-la perceber que estamos aqui. E que em momento nenhum pode sentir que não. Entendem isto? Sinto-me feliz com este nosso entendimento, porque o que me orgulha, acima de tudo, é o meu papel de pai. É nesse que, entre erros e acertos, não devo falhar. Hoje, há qualquer coisa que me diz que devíamos estar juntos, mas não podemos. Este 19 de Março 2020 será até hoje o dia do pai mais marcante da nossa vida comum. O primeiro longe, por culpa do isolamento social. Óbvio que não seremos caso único. Valorizemos então o que estamos a passar hoje, para dar valor a tudo o resto, quando isto tudo passar. 

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