… Mariama!

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… Não tenho lidado bem com a tua partida querida Mariama. Não tenho estado à altura daquilo que pedias a todos, que fossem alegria e luz o tempo todo, porque tu eras assim. Não tenho conseguido desde o dia que comunicámos a ultima vez, num Domingo passado, depois da Liliana me ter dito que tinha estado em tua casa. Arranjei ao longo deste tempo todo sempre uma desculpa para falarmos sem ser do maldito cancro que se instalou dentro de ti. O último pretexto era a chave do prédio onde moravas. Inventava coisas, nunca desabei à tua frente porque a imagem que tenho tua é a de alegria. Sempre! É estranho pensar que há uma manhã sem te ver com o teu Zé Maria a descer a rua. Ele tímido, envergonhado mas tão amado por ti que se percebe muito bem quando dizias que aquela era a melhor parte do teu dia. Sabes, no fundo achei que isto não te iria quebrar. Não te iria vencer. Como é possível? É a pergunta que todos fazemos. Não há uma pessoa que não gostasse de ti. Aqueles que apenas te conheciam, os que te eram próximos, os amigos mais fechados e os que tu escolhias para o teu núcleo duro. No fundo acho que todos pensaram que um milagre poderia vir para te deixar estar … não quero imaginar a dor que sentiste este tempo todo quando, porque és muito inteligente e no fundo sabias que estes meses eram de aproveitar para gozar ao máximo e despedir se fosse preciso. Não tenho conseguido deixar de pensar em ti, de escutar a tua voz, de imaginar o que farias e como irias ‘tomar conta dela‘, a propósito da conversa da chave, como me disseste e nem há um mês… foste sempre comigo uma amor de pessoa, cresceu uma amizade fluída e bonita entre nós há uns 18 anos talvez. Acompanhaste todo o meu caminho e eu eu o teu e ambos crescemos naquilo que queríamos. Escutei alguns desabafos teus quando a televisão te recebeu e também as dúvidas que tinhas porque, em alguns momentos, achaste que podiam não gostar de ti ou não te entender. Como seria isso possível? Vi a alegria nos teus olhos tantas, tantas mas tantas vezes por te reconhecerem naquilo que gostavas de fazer e percebi sempre o alegre que estavas. Sei também que muitas vezes a alegria era para fazer os outros felizes, porque nem sempre os dias eram rosa porque o caminho não foi tão fácil como tantas vezes querias fazer parecer. Falámos de trabalho, de amor, de amizade, de projectos… Sabias dos meus amores e desamores e guardavas segredos a sete chaves, sabias de quem eu gostava e a quem achava menos graça. És uma pessoa daquelas que diverte e apetece estar, és energia boa, és actividade e muitas vezes era preciso abrandar para não ir por aí fora e parar sabe Deus onde. Eras muito amiga dos teus amigos e sabias exactamente o teu papel na vida e cada um… Agora que Deus te levou para perto dele, vejo a internet inundada de boas manifestações, eu acho que ficarias muito feliz a ver isto. As pessoa amam-te e muitas vezes tiveste dúvidas disso ou até questionaste se seria possível. Tinhas a tua vaidade e foi ela que te ajudou a superar tantas coisas que tiveste que resolver em ti. Eras uma mulher bonita, sem discrição, com a noção exacta de que se é para se estar que se esteja em bom… soubeste sempre o teu lugar e, melhor ainda, dar o lugar a quem chegava. Havia sempre tempo, nunca escutei um ‘não’ da tua boca. Quando passei uma das piores fases da minha vida, mandaste um carro buscar-me a casa, porque querias ver-me sentado e a sorrir porque o mundo não se compadece com a tristeza que alimentamos, dizias com uma clareza imensa ‘quem não nos quer não nos merece’… Tenho tantas conversas nossas gravadas que durante estes dias escutei em áudios para te lembrar como te quero lembrar… feliz. Alegre. Luz. Faz uma boa viagem querida amiga e descansa. Merecias estar mais tempo cá me baixo. Mas acreditamos os dois que Deus sabe o que faz. Olha, quando vires aí em cima, que cá me baixo nos estamos a esquecer, lembra-nos que na verdade só o amor interessa!‘.

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