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A morte fica-nos tão bem!
Porque há vezes em que a morte nos fica bem. Não é o caixão que nos acolhe os ombros, nem o lençol bordado que nos cobre o rosto enquanto a nossa pele fica pálida e serena num corpo frio e rijo. O que nos fica bem é o sentimento inerte de morte. Com ele vivemos melhor, mais tranquilos e de acordo com o mundo de hoje… Há dias em que acho mesmo que a morte nos fica bem!
Há gente que chora muito nas primeiras filas da igreja, enquanto estou estendido num retângulo de madeira. Todos bem vestidos, de uma igreja cheia apenas meia duzia estão ali porque me conhecem de verdade e ficam com pena de me ver calado. Os outros estão para verem e serem vistos. Tenho um fato escuro que comprei há muito tempo e que como me fica largo, alguém o prendeu com uns alfinetes atrás para não fazer pregas. Até morto é preciso estar-se bem! A igreja transformou-se numa sala de espectáculos onde eu sou o protagonista. É um monólogo, estou sozinho no altar, inerte, sereno, de boca fechada, o que diga-se de passagem, alegra muito boa gente…
Preciso que me chame a cabeleireira, porque não posso ir a enterrar sem que me faça a crista no cabelo!
– Nem morto, o cabrão baixa a crista! – Diz baixinho um dos “amigos” que foram certificar que eu ia com as alminhas.
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