… No areal, com amor!

Por

… Escrevo-vos no areal. Estou sentado na areia, com o telefone na mão a escrever, ao longe a Leonor faz poses para fotografias com a prima. Todos os anos há uma novidade. A deste ano, são as várias mudas de roupa que uma e outras trazem para a praia deserta que descobrimos e para onde vimos ao final do dia para fazerem várias fotografias. Passam horas nisto, é natural. Estão de férias! Estamos nas férias da Leonor. Continuarão a ser sempre as férias da Leonor. São escolhidas por ela, com quem ela quer e onde ela quer, dependendo as várias propostas que lhe vou enviando quando a data se aproxima. Nos horários tento ser rigoroso, mas é complicado. A Leonor cresceu! Mantemos esta tradição de férias ‘a dois’ – que quando se tornou adolescente passaram a ser a mais, por conta da prima, das amigas e do que a fizer feliz. Fazemos isto todos os anos desde que me separei. Já lá vão uns anos valentes. De vez em quando olho para ela, ali dentro de água e penso, ‘E para o ano?’ Fico sempre com a sensação de que o seu crescimento vai um dia impossibilitar, por algum tempo, a vontade de estarmos juntos tantos dias de férias, porque aos 16 anos as prioridades dela são outras e aos 17 serão outras, e depois outras… Eu tenho a noção disso, eu sei que é a lei natural das coisas e há um lado que grita ‘ainda bem que assim é’, porque quero uma filha independente, de livres escolhas e vontades, mas há também o outro lado, que se vai apagando e que recordo com saudade porque gostava de a ver à minha procura com os olhos muito abertos quando saía da água, meio perdida e a precisar de uma toalha para aquecer o corpo e limpar os olhos… Sinto saudades disso. São saudades boas, mas são saudades e todos os pais percebem o que quero dizer. As fotografias que tenho em papel revelam que o tempo não é generoso com as saudades, nem se apercebe das coisas que nos vai fazendo. Mas ao olhar para estas imagens que registamos este ano vejo também o generoso que foi com a minha vida e com relação que tenho com ela. Isso é o mais importante. Ela a crescer e eu aqui. Ao seu lado, de olhos postos no que vai acontecendo, a vê-la crescer e a ganhar maturidade. Durante as férias, farei sempre o que devem fazer todos os pais. Tenha ela a idade que tiver e mesmo que se irrite comigo, vou dizer mil vezes para passar protector solar no corpo, que o chapéu tem de estar na cabeça, para dar descanso ao telemóvel, que não quero que coma um gelado todos os dias, que tem que ser mais despachada no banho e arrumada nas coisas que ficam espalhadas… E ela, estou convencido, vai sempre dizendo que sim e fazendo a conta dela. A mim, cabe-me perceber as regras deste jogo, que é educar uma adolescente. Não sei em que dia ela me dirá ‘pai, este ano vou com as minhas amigas no Verão, não posso r contigo!‘ Não sei quando chegará esse dia. Mas sei que vai chegar. Como diz a minha amiga Luísa Castel-Branco, os filhos são do mundo. Só nos estão emprestados. A certa altura da vida, ficamos um tempo sem eles, porque precisam de espaço… Vão e voltam. Se os soubermos esperar e receber, voltam.

Blogs do Ano - Nomeado Entretenimento