… Sabíamos lá nós!

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… Sabia lá eu o que me vinha aí quando a peguei nos braços pela primeira vez. Esta imagem é o primeiro dia da Leonor em casa no Alentejo. Já era um amor grande. Três dias antes tinha-lhe dado o primeiro banho assim que nasceu. Saberia lá eu, tudo o que vinha com Ela. Não imaginamos nunca que amor é este, que força é esta que temos dentro que nos leva por aí fora para que olhem para nós como exemplo, com orgulho, com a certeza de que estamos ali… Não sei se existirá entre os pais, satisfação maior do que ver os nossos filhos crescer na direção que acreditamos ser a acertada. Penso muito na tal história das “decisões acertadas”. Quem somos nós para achar que o melhor para eles é uma coisa, outra, isto ou aquilo? Os filhos não são nossos, são do mundo, não é? Mas o que gosto de perceber, naquilo que é a minha experiência, é que a minha filha percebe bem aquilo que quer, o que deseja, que tem os objetivos definidos e é demasiado certa de muitas coisas, que mesmo que eu tente explicar que não existem certezas absolutas, só a vida se encarregará de lhe desenhar melhor este exercício. Fará um desenho e eu, se puder, cá estarei para ajudar a corrigir, a apagar a desenhar de novo… O que percebo na Leonor é a enorme lucidez no discurso e a grande generosidade no seu dia a dia. Nas conversas que temos, percebo que me quer fazer entender que este momento é dela e dos seus amigos, do mundo que criam uns com os outros. Já fui adolescente, tenho irmãos mais novos e sei que esta fase é muito importante para ela e para todos da sua idade. É importante que ela viva o que eu, por circunstâncias da vida ou da época não pude viver, mas que gostaria de ter vivido. Amigos meus viveram! É preciso deixar os filhos serem adolescentes. Não há pressa no seu crescimento. Uma coisa de cada vez, porque só assim se completam etapas. Claro que temos de estar alerta e atentos, o mundo não acaba ao alcance dos nossos olhos, mas dá muita segurança perceber numa conversa que os nossos filhos percebem o que estão a fazer e entendem o caminho… Não me aborrece que a Leonor mergulhe mais de metade do seu tempo livre na vida de adolescente com os amigos e amigas, com as aventuras que tem nesta altura, ou que passe muito tempo no telefone. Faz parte e faz falta. O que me iria aborrecer e preocupar era perceber que a minha filha, um dia, precisaria de mim e eu, à distância de uma divisão da casa, não estaria ali porque não falaria a mesma “língua” que ela. Isso é o importante. Não é o estar a toda a hora, sufocar, questionar, indagar. Isso não é nem bom, nem importante. Importante e fundamental é fazê-la perceber que estamos aqui. E que em momento nenhum pode sentir que não. Este ano a Leonor faz 18 anos. Outra fase, outros apertos, outras alegrias… será sempre assim. Faz parte e ainda bem, mas saberíamos lá nós, os pais, que um dia alguém nos viraria o mundo do avesso de tamanha vontade de os ver felizes.

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