… O encanto do palhaço!

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… Nunca tinha visto o Rui Paixão, nunca tinha falado com ele, nem sequer ouvido falar dele. Descobri-o no Wall Toghter Now. Um personagem estranho, estridente, escondido por trás de uma forte caracterização. O outro dia eu e a Maria recebemo-lo no programa de manhã. O Rui foi sem máscara de palhaço, sem o peso da caraterizarão, com a vontade simples de apenas se mostrar… E mostrou. O Rui tem 25 anos e muito sonhos enfiados por enquanto dentro de um saco porque a pandemia travou alguns e um deles foi brutalmente interrompido quando estava no elenco do maior e mais conceituado circo do mundo o Cirque du Solei. Dito assim e até na forma como descreve o processo parece uma coisa simples, fácil, ao alcance de qualquer um.. Não é verdade! É um feito. Um feito gigante, porque um menino de Santa Maria da Feira agarrou na vontade que tinha de fazer diferente e foi. Não foi logo para o circo, ele não sabia exactamente para onde ia, mas foi indo. Deixou-se levar pelo que sentia, pelo que queria, pelo sonho que não permitiu que ficasse amarado à terra e foi até que um dia viu que podia concorrer a um casting e se lançou de cabeça. Essa cabeça de artista que só os artistas entendem quando querem muito uma coisa, mesmo que não tenham a certeza que coisa é essa. O Rui é totalmente diferente do Palhaço que representa, até porque ele mesmo diz que nunca sonhou ser palhaço. Mas quando falamos com ele e tentamos perceber a sua história rapidamente entendemos que um se cose no outro, porque a descontração tímida que o Rui tem, fica camuflada na extravagância empolgante que o seu palhaço nos apresenta. O rui tem 25 anos, muito antes de os celebrar fez-se ao mundo, não tinha dinheiro, queria ir e criou um espectáculo de rua para ganhar dinheiro. De repente viu-se a ele e ao seu espectáculo a viver por si só até chegar aqui… estava na China muito perto de onde este vírus nos apareceu quando foi obrigado a ficar fechado em casa em silêncio numa cidade que não dorme nunca, onde as luzes não se desligam, onde o barulho não desaparece. ‘Parecia um filme‘, diz ele que de repente, no outro lado do mundo, se viu em silêncio, sem luzes, com tudo fechado em casa. Quinze dias depois volta para os braços da mãe, para a sua terra e acredita que cada vez gosta mais do seu País. Está em Lisboa, cidade onde nunca pensou viver e da qual gosta cada vez mais… O Rui volta par o País de onde é, depois de ter estado no mundo e num dos maiores circos do mundo. Era tão bom que se olhasse para o Rui, e para outros artistas desta natureza com olhos de ver e não apenas como ‘olha há ali um português a fazer qualquer coisa‘. Como se só no futebol fosse importante haver um Portugal a brilhar além fronteiras. O Rui é um talento, como ele existem outros por cá. A cultura não está a viver a melhor fase, o mundo não deixou, mas muitas vezes, da parte que nos toca, basta apoiar, perceber que existe, escolher o que é nosso, perceber o que se passa. Aplaudir. O Rui tem 25 anos, o ar descontraído de quem ainda tem muita coisa para fazer e um discurso positivo. O Rui é artista, tenho muitos amigos artistas que sofrerem com esta pandemia o que não se imagina, porque além do medo da doença. Fica o medo do futuro, o dinheiro que não entra, o silêncio que demora muito a ser quebrado por um convite, o telefone que não toca, o receio de começar porque não se sabe quando se interrompe… Como o Rui há o João, o António, a Anabela, a Maria, a Cristina, o Pedro, o Manuel, o Daniel, o Diogo, a Joana… tudo nomes de gente que tem rosto, talento e que se aguenta de pé na esperança que Portugal olhe para eles com a vontade de os ver e não apenas como peças de decoração.

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