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O pensar da madrugada….

Madrugada calma no Alentejo. Longe, muito longe da confusão onde se instalou a minha vida misturada com o trânsito violento da cidade grande e com o barulho poluído dos sinais luminosos. Madrugada muito calma na sala branca da minha casa alentejana. Está um friozinho que sabe bem no começo de Setembro, as janelas abertas da varanda, fazem-me chegar o cheiro da madrugada que está calma, e que é interrompida só pelo meu pensamento, pelo som das teclas deste computador, ou do miar de um gato que se passeia calmamente na madrugada… Não tenho sono. Aproveito para olhar agendas antigas e diários ao acaso, e noto a grande diferença que a minha vida tem… Já tentaram fazer isso? Ler escritos antigos, onde desenhamos projectos e onde sem pudor nem vergonha depositamos os nossos sonhos. Fi-lo muitas vezes… estou na agenda de 1999 e noto na escrita a ansiedade e muita angústia, por não estar a conseguir realizar o sonho de trabalhar em televisão. Um sonho antigo, que a avaliar pelos escritos me submeteu a muitos sacrifícios, e obviamente aos disparates próprios daquela idade… Cartas e currículos enviados para meio mundo, gente que nem sabia o meu nome e eu já me achava no direito de propor programas, ideias para programas, marcar reuniões com a Maria Elisa que era então directora de programas das RTP, com o Grego Esteves que estava na direcção de informação, para um programa da TVI sobre futebol – logo eu que entendo tanto de bola como de massa folhada – Meus Deus, a vida dá umas voltas, que por vezes sabe bem olhar para trás e sentir que fizemos tantas coisas que hoje nos parecem ridículas, mas que na altura eram óbvias. Imagino o que teriam pensado todas as pessoas a quem eu fiz chegar propostas e cartas de apresentação do meu talento. Talvez que era um disparate, mas a verdade é que graças a esse “passado burocrático” estou aqui. Melhor, pior, deferente, medíocre, o máximo ou suficiente… o que importa é que estou. Por mim. Cheguei sozinho, à custa de mim mesmo e isso, mesmo que muitos não saibam o que é, sabe-me muito bem. Por isso, nesta madrugada calma, fecho os olhos e permito-me a viagem de sonhar muito, que foi sempre o sonho que me ajudou a não desistir. Nunca tive ninguém que me desse a mão nessa altura. Cai e levantei-me sozinho muitas vezes. Ouvi muitas gargalhadas à minha custa. Mas não desisti. Estou aqui, com a vida mergulha na confusão, que não imaginei na altura em que sonhava nas madrugadas calmas. Mas estou, e vou ficar!

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