… Quando as manhãs, há muitos anos, começaram a dar nas vistas acrescentou-se pela primeira vez um espaço de conversa sobre famosos. Chamava-se tertúlia cor de rosa e foi-se fazendo com várias pessoas. Umas boas, outras mais ou menos e uma ou outra francamente má. Era um espaço que precisava criar raízes e tradição feito de testes semanais até que se descobriu a fórmula perfeita. Daniel Nascimento, Maya e Eu. Durante anos seguidos e todos os dias, os três tornámos o espaço um lugar quase obrigatório, que servia, não só de entretenimento ao espectador, como fonte de inspiração jornalística e ainda dava um acesso brutal ao Jornal da Uma. Não existiam redes sociais, mas existia em cada um de nós a tremenda vontade de fazer novo todos os dias. Entre nós os três formou-se um elo de amizade verdadeira com direito a tudo o que as relações de verdade têm. Rimos muito, choramos de vez em quando, zangamo-nos uns com os outros mas soubemos sempre que cada um estava lá para o outro. Fosse quem fosse e porque fosse. Atrevo-me a dizer sem errar, que fomos os pioneiros no entretenimento do comentário mediático e a marca por ser tão forte foi copiada por todos mas sem sucesso. Numa ninguém chegou aos pés desta tripla. Só anos mais tarde e num registo completamente diferente encontrei um espaço no ‘Passadeira vermelha’ onde a química fosse semelhante…. O Outro dia lembrei-me, que já não estava fisicamente com os dois há muito tempo, marcámos um chá. Antes, devo dizer andámos a tentar marcar qualquer coisa mas a agenda de uns e outros não dava…. Lá conseguimos. E quando nos demos conta tinham passado dez anos. Verdade! Passaram dez anos desde que tínhamos estado os três juntos pela última vez. Dez anos é muito tempo – como diz a canção – e não é normal que aconteça com pessoas que vivem na mesma cidade e se gostam. Alguma coisa aqui falhou, ou talvez não, porque a correria do dia a dia faz com que dez nos pareça às vezes dias, semanas talvez… o bom, foi perceber que um minuto depois era como se tivéssemos estado no dia anterior. Em abono da verdade fomos sempre comunicando e sabendo uns dos outros, mas não é a mesma coisa. Os três não estávamos juntos há muito tempo e metemos a conversa em dia, falámos uns dos outros e falámos do outros que gostamos de o fazer e não vem mal ao mundo por isso. Percebemos que mantemos a cumplicidade e que a idade apurou o sentido de humor. Recordámos gente e momentos e prometemos que não ficaríamos mais dez anos sem estar juntos, pode ser que se consiga realizar e atenuar a distância no tempo. A verdade é que não devemos ser caso único entre relações porque o tempo vai passando, mudamos de trabalho, de desafios, conhecemos outras pessoas e as que estavam vão deixando um lugar vazio porque também mudam de trabalho e conhecem outras pessoas. Não é justo que por conta da agenda e do relógio não se pare um dia e se diga ‘vamos ver-nos!’. Não faz sentido não perceber que a vida passa num abrir e fechar de olhos e que afinal uma ou duas horas num mês não é nada e que deve ser obrigatório usar antes que seja tarde e de vez em quando o ‘tarde’ vem cedo demais. Eu tenho uma espécie de desafio constante que é manter as pessoas ‘presas’ por fios invisíveis a mim. Faço questão de manter contacto e, com tempo, perceber que vou arranjar forma de as juntar. Gosto de organizar jantares em casa e fazer partidas para que muitos se encontrem. Não tenho muito tempo e, na correria também isso foi deixado ao acaso, mas agora resolvi que iria puxar alguns desses fios, para me sentir vivo e – mais importante ainda – para que se entenda que ainda aqui estamos, e se ainda aqui estamos temos que aproveitar. Amanhã não sabemos, e hoje podemos fazer-nos falta uns aos outros. Às vezes é só um olá e uma gargalhada e já recuamos tempo suficiente para perceber porque estávamos na vida uns dos outros. A Maya e o Daniel são apenas um exemplo, aposto que acontece o mesmo com vocês. Agarrem agora no telefone e marquem. É urgente e sabe pela vida!
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