… Durante anos a rádio foi-me fascinante. Foi ali que comecei um caminho. Desdobrava-me a trabalhar para conseguir pagar as contas e não me sobrava um tostão ao fim do mês, melhor dizendo, faltava muitas vezes. A minha entrada na rádio aconteceu num verão. Não tinha voz, era muito miúdo e ali fiquei a arrumar discos, a atender o telefone e depois a vender publicidade. Ali fiquei um ano e pouco. Em Novembro – faz este último Novembro 26 anos – estreei-me ao microfone. Não estava nervoso, estava ansioso porque queria continuar ali. Gravei publicidade, substitui uma colega e bebi de todos os que conhecia. Nunca imitei ninguém, encontrei um estilo e a verdade é que o convite chegou para ter programas regulares. Programas onde ouvia. Gosto de ouvir! Tive em várias rádios vários programas, quem faz rádio sabe que a grelha se reforma muitas vezes com a vontade e necessidade de “baralhar e dar de novo” com cheiro a novidade. O meu último programa de rádio foi na delegação regional da Rádio Renascença. Ali estive quatro anos todas as manhãs entre as sete e as dez a acordar o Alentejo com as “manhãs da Renascença”. Aprendi tanto… No interior, a rádio, de imensa que é, acaba por ser pequena para quem quer mais. Ainda tentei organizar a minha vida de forma a ter o pé num projecto que orgulhava tanto uma equipa. Aos poucos não dá. Aos poucos o imenso fica muito longe. Mas foi há 26 anos que dei de caras com essa paixão. Aquela onde conta a emoção da voz, o ouvido amigo, o gosto de quem gosta de nós, o ouvinte fica um amigo e conhecemos a voz de todos eles. A rádio é a imagem a poder ser despenteada. 26 anos é muito tempo. Passaram-se muitas coisas, perderam-se muitos amigos, ganharam-se outras coisas, existem muitas lembranças. Aos que lerem este texto e que por ali passaram, lembrem-se que me lembro da entrada a correr na rádio, na procura da maior música para dar tempo de beber um café antes de ligar o microfone, nos nervos ao falar de desporto do qual percebo ainda hoje zero, do prolongar do tempo mesmo depois da emissão fechar… Lembrem-se que os sonhos têm asas e as memórias também. Só porque sim!
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